Sistemas de vigilância via satélite podem ser interrompidos por falta de verba, deixando o país sem dados sobre degradação

Estação Ecológica de Águas Emendadas, em Planaltina, é uma das protegidas do Cerrado que sofre com invasões

Estação Ecológica de Águas Emendadas, em Planaltina, é uma das protegidas do Cerrado que sofre com invasões

GABRIEL JABUR/AGÊNCIA BRASÍLIA.

Cerrado, a savana com maior biodiversidade do planeta, pode virar um alvo fácil para desmatadores, que estarão livres para avançar sobre a fauna da região com o fim do monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A verba destinada ao órgão para manter o programa de vigilância da região está chegando ao fim, e o serviço pode ser interrompido no próximo mês.

Desde o ano passado, organizações ambientais, como o ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza), o Instituto Cerrados e entidades que integram a Rede Cerrado alertam para o apagão de dados que pode atingir a área ambiental caso os recursos não sejam repostos. As informações colhidas pelo Inpe servem para nortear ações ambientais contra a degradação da natureza e apontam em que regiões o desmatamento está avançando de maneira mais acentuada e subsidiam operações de órgãos como o Ibama e a Polícia Federal.

R7 entrou em contato com o Inpe, Ministério do Meio Ambiente e com a pasta da Economia para questionar sobre a manutenção dos sistemas de vigilância e a alocação de recursos para garantir a continuidade dos programas. Até a publicação desta matéria, os órgãos não tinham respondido sobre o caso.

O risco de que o monitoramento seja encerrado coincide com o avanço de desmatadores sobre uma região fundamental para abastecer bacias hidrográficas e rios que correm por todo o país e irrigam áreas de produção de alimentos, de produção energética e umedecem a atmosfera prevenindo grandes períodos de seca.

Em um pedido de acesso à informação, realizado no ano passado pelo ISPN, o Inpe afirmou que os recursos utilizados para garantir o monitoramento do Cerrado só era suficiente até janeiro deste ano. O Cerrado, assim como a Amazônia, são vigiados pelos sistema Prodes e Deter, que utilizam satélites, com dados compilados por computadores com elevado poder de processamento para colher e sintetizar os dados.

"O Programa de Monitoramento da Amazônia e demais biomas recebe recursos orçamentários através da ação 20V9.PO0001. Entretanto, os recursos hora alocados cobrem somente as ações de monitoramento da Amazônia Legal brasileira. Para os demais biomas brasileiros o INPE vem contando com recursos extraorçamentários. No caso do bioma Cerrado os sistemas PRODES e DETER, estão financiados com recursos do Forest Investment Program — FIP, em um contrato de doação firmado entre o Banco Mundial e o MCTI. O referido contrato será finalizado em dezembro de 2021", informou o órgão.