Inflação e juros altos favorecem investimentos com mesma segurança e rentabilidade maior; especialistas indicam opções 


Poupança não é a melhor opção de investimento, segundo especialistas

Poupança não é a melhor opção de investimento, segundo especialistas

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Com a variedade de produtos financeiros disponíveis no mercado atualmente, para todos os tipos de investidor e tamanhos de bolso, a caderneta de poupança continua campeã no coração dos brasileiros. Apesar de não oferecer a melhor rentabilidade, ela ainda é o produto mais usado no país por quem quer economizar, independentemente da classe social.  

Isso é o que mostra a quinta edição da pesquisa Raio-X do Investidor Brasileiro, realizada pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais) em parceria com o Datafolha. Das 5.878 pessoas que foram entrevistadas entre os dias 9 e 30 de novembro de 2021, 23% afirmaram ter depositado suas economias na poupança naquele ano.

Para avaliarem o comportamento do investidor, os responsáveis pelo estudo dividiram a população de acordo com a renda familiar média: as classes A/B englobam as famílias com ganhos médios de R$ 7.943; a classe C, as com renda em torno de R$ 2.904, e as classes D/E, de R$ 1.492. Nessa amostra, 47% são mulheres, e 53%, homens, com 16 anos ou mais, de todas as regiões do Brasil. Além disso, 1.393 pessoas pertencem às classes A/B (25%), 2.810 (47%) são da classe C, e 1.675 (28%) integram as classes D/E. Participaram da pesquisa pessoas economicamente ativas, aposentadas e inativas, com ou sem algum tipo de renda. 

O investimento em poupança é a opção de 35% dos indivíduos das classes A/B, de 23% das pessoas da classe C e de 14% dos integrantes das classes D/E. Na avaliação de Luiz Bacellar, CEO da Saks, startup do setor financeiro, que atua no segmento de seguros e previdência, a popularidade da poupança se deve a quatro fatores, que podem ser vistos a partir de sua motivação principal: cultural, técnica, informacional/educacional e econômica.  

"Do ponto de vista cultural, a poupança é uma tradição nacional. Desde criança, a gente ouve que tem de poupar. Nasce uma criança na família, e alguém abre uma poupança para ela. O segundo aspecto, técnico, é a disponibilidade. Quase toda conta bancária, quando é aberta, já vem, automaticamente, com uma conta poupança. Ela acaba sendo usada como forma de guardar dinheiro, não necessariamente como investimento, porque é muito mais fácil colocar o dinheiro na poupança do que em qualquer outro investimento", afirma Bacellar.

O gestor fala que o terceiro fator é a falta de informação e de educação financeira. "A maioria das pessoas desconhece ou tem receio de trocar um investimento tradicional, como uma poupança, por outro produto, como uma renda fixa ou algo do tipo. Se eu perguntar a qualquer pessoa na rua o que ela entende de renda fixa, tenho certeza de que mais de 90% delas vão dizer que não sabem nada, ou que estão muito ocupadas. E também tem fator educacional: aprendemos que temos que trabalhar para ganhar dinheiro, mas não aprendemos a lidar com o dinheiro. Na hora de fazer um financiamento para comprar uma casa ou um carro, a maioria das pessoas não sabe nem se dá para conseguir juros menores, ou como calcular as parcelas", diz

O quarto aspecto apontado por Bacellar é o econômico, a renda da maioria dos brasileiros. "Quase 95% da população ganha até R$ 3.500, e não tem disponibilidade de capital para investir. Quando é que sobra algum dinheiro?", questiona.

O Raio-X do Investidor Brasileiro mostra que, em 2021, menos de um terço dos brasileiros (27%) conseguiu economizar, e apenas um em cada dez entre os que pertencem às classes D/E. Para conseguirem fazer isso, 44% dos entrevistados disseram ter diminuído os gastos e/ou deixado de sair, 21% evitaram compras desnecessárias, e 18% controlaram melhor as despesas.

Para Samuel Torres, consultor financeiro da fintech Onze, a falta de educação financeira, também apontada por Bacellar, é o que leva o brasileiro a ainda confiar mais na poupança que em outros investimentos, mais rentáveis. "Estamos com uma inflação anual de 12,75%, mas a poupança está rendendo apenas 6,17% ao ano. Foi um bom negócio até 2020, quando a taxa Selic estava em 2% ao ano, mas hoje é ruim", analisa. 

Dicas

O consultor afirma que uma das melhores opções de investimento na atualidade é o CDB (Certificado de Depósito Bancário) com pagamento de 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). "Graças à concorrência, está mais comum e disponível nos grandes bancos, tem baixíssimo risco, e rende a taxa Selic". Segundo Torres, é possível investir, por exemplo, R$ 50 por mês. "Nesses casos, é fácil abrir conta em um banco digital, sem tarifas, e aplicar em um CDB pós-fixado com liquidez diária", orienta.

Os CDBs são aplicações de renda fixa, que consistem em emprestar dinheiro a uma instituição financeira em troca de rendimento. Se for prefixado, a porcentagem a render será conhecida no momento em que é feita a primeira aplicação; se for pós-fixado, o retorno vai variar de acordo com um indexador econômico. O CDB com liquidez diária permite a realização de resgates diariamente, sem perda de rentabilidade. 

Ainda segundo Torres, outras opções de aplicação para quem quer investir sem correr riscos são o Tesouro/Selic, "um tipo de tesouro direto, dos mais seguros do Brasil, pós-fixado, sem variação de preço, praticamente sem risco de perder dinheiro", e o Tesouro IPCA+, que tem garantia de rentabilidade acima da inflação, mas com vencimento de longo prazo (o dinheiro precisa ficar parado, no mínimo, até 2026, mas pode ser até 2035).

A pesquisa da Anbima/DataFolha mostrou que 61% dos entrevistados não conhecem ou não usam nenhum tipo de investimento, número que sobe para 64%, quando considerada somente a classe C, e para 72%, quando as respostas levadas em conta são apenas as das classes D/E. Os fundos de investimento são o que têm maior adesão: 3% dos entrevistados optam por esse tipo de aplicação. Há, ainda, uma pequena parcela de brasileiros (2%) que ainda guarda dinheiro em casa e/ou “embaixo do colchão”.

Para quem ainda não tem dinheiro aplicado, o primeiro investimento, na opinião de Torres, deve ter como objetivo uma "reserva de emergência". "É aquele dinheiro que vai ser usado em um imprevisto, para você não precisar pegar dinheiro emprestado. O ideal é que chegue à quantia de, pelo menos, seis vezes o valor dos gastos mensais da família, isso se pensarmos que o imprevisto pode ser uma demissão, por exemplo", aconselha o consultor.

Outra dica de ouro é dada por Bacellar: "Todo mundo deveria ter uma previdência privada. Não é um investimento tão tradicional como a poupança, mas é tão seguro quanto, e pouca gente tem. É um meio de ir acumulando dinheiro todos os meses, é mais lucrativo que a poupança e mais rentável do ponto de vista fiscal também. Além disso, no futuro, é a garantia de um complemento para a aposentadoria, algo de que todo mundo vai precisar".

Torres aponta mais uma vantagem do investimento em previdência privada: "É uma ótima opção de planejamento sucessório, porque não passa por inventário. Isso significa que, em caso de morte, o dinheiro investido e o rendimento são pagos rapidamente aos herdeiros, não entram no processo".