Caso seja aprovado, o pedido será o 4º maior do país, atrás somente da Odebrecht, Oi e Samarco.

Por Isabela Bolzani, g1

Unidade das Lojas Americanas, em Sorocaba (SP), fechada após expediente — Foto: Eduardo Ribeiro Jr./g1
1 de 1 Unidade das Lojas Americanas, em Sorocaba (SP), fechada após expediente — Foto: Eduardo Ribeiro Jr./g1

Unidade das Lojas Americanas, em Sorocaba (SP), fechada após expediente — Foto: Eduardo Ribeiro Jr./g1

Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial nesta quinta-feira (19), na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. Nesta manhã, a companhia já havia informado que teria recursos reduzidos em caixa e admitiu a possibilidade de iniciar o processo.

As dívidas da empresa somam R$ 43 bilhões, entre aproximadamente 16,3 mil credores.

A quantia em caixa, segundo a varejista, estaria em R$ 800 milhões. O valor é significativamente menor do que os R$ 8,6 bilhões reportados no balanço de resultados do terceiro trimestre de 2022.

O prazo entre o pedido e a homologação do plano é de 60 dias. De acordo com o diretor financeiro da Spot Finanças, Marcello Marin, o pedido de recuperação judicial da Americanas se tornará o quarto maior da história do país, atrás somente de Odebrecht, Oi e Samarco.

"Será uma recuperação judicial bem complexa. Além das margens, que são extremamente baixas para a companhia, outro ponto de bastante atenção é a 'qualidade' dos credores", diz.

"Pelo que se tem falado, a maioria dos credores são os bancos, o que vai gerar muita briga para a aprovação do plano. Internamente, os bancos já estão falando de haircut [perdão de dívida] na casa de 30%, mas, com certeza, o plano vai prever mais do que isso", afirmou.

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Agravamento da dívida

No dia 11 de janeiro, a Americanas divulgou um fato relevante informando que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que chegaria a R$ 20 bilhões.

O rombo, causado principalmente por dívidas com bancos em operações de risco sacado, amplia os números referentes ao grau de endividamento e ao capital de giro. Em resumo, as operações não foram lançadas adequadamente, subestimando a dívida da empresa.

A ameaça de calote iniciou uma batalha jurídica entre a empresa e os principais credores. O BTG Pactual, um dos credores mais expostos à dívida da varejista, conseguiu um bloqueio de R$ 1,2 bilhão da Americanas.

O aval do bloqueio foi concedido pelo desembargador Flávio Marcelo de Azevedo Horta Fernandes, da 2ª Câmara Criminal do Rio de Janeiro. A decisão reverteu uma liminar que havia congelado temporariamente o pagamento das dívidas da varejista e revertido qualquer tentativa de execução por parte dos bancos credores.

A empresa, agora, afirma que boa parte do seu caixa está "injustificadamente indisponível para a movimentação da companhia desde ontem", em virtude da decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Veja aqui a cronologia do caso.

No documento em que esclarece os motivos para entrar com o pedido de recuperação judicial, a empresa afirma que apenas o bloqueio dos recursos já tornou "extremamente difícil a continuidade das operações do Grupo Americanas por 30 dias".

Além do BTG Pactual, outros bancos também se adiantaram na cobrança de dívidas por receio de travamento dos pagamentos.

"Mas a situação ficou ainda pior em razão dos consecutivos rebaixamentos de rating da Americanas, pelas agências de classificação de risco, o que fez com que os bancos se negassem a adiantar recebíveis de cartão de crédito, operação rotineira e historicamente feita pelo Grupo Americanas para capital de giro, drenando mais de R$ 3 bilhões do caixa da companhia", afirmou a empresa no documento.

O que diz a Americanas?

Em nota oficial enviada à imprensa, a Americanas afirmou que seguirá operando normalmente dentro das novas regras da recuperação judicial, "cujo um dos objetivos principais é a própria manutenção de empregos, pagamento de impostos e a boa relação com seus fornecedores e credores e investidores de forma geral".

Para tanto, a empresa informou que o grupo de acionistas referência da empresa, formado pela 3G Capital Partners — dos sócios Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Hermann Telles —, informou ao presidente do conselho de administração que pretende manter a liquidez da Americanas em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as suas lojas.

"Através deste comunicado, pedimos o engajamento de todos os colaboradores nesta nova fase e principalmente dos fornecedores com quem temos relações históricas. A história da Americanas segue com determinação rumo a uma nova fase, com o compromisso com a sociedade e disposta a construir soluções que possam vir atender aos credores da empresa", afirmou a empresa.

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Quais são os próximos passos?

Após a entrada do pedido de recuperação judicial, a Americanas ainda deve aguardar a decisão da Justiça de deferir ou não sua solicitação.

Segundo especialistas da XP Investimentos, caso a recuperação judicial seja sancionada, a companhia entra no chamado "prazo de blindagem" — um período de 180 dias no qual todas as suas dívidas ficam suspensas. Caso seja necessário, a lei ainda permite a extensão do prazo por mais 180 dias.

Além disso, os analistas da XP ainda explicam que a companhia ainda terá até 60 dias para apresentar a primeira versão de um plano de reestruturação, com as principais medidas a serem tomadas para balancear sua estrutura de capital.

Os especialistas apontam três caminhos prováveis para a Americanas:

  • Gestão das obrigações financeiras (passivos), que pode ser feita por meio da negociação dos débitos pela conversão de dívida em ações;
  • Injeção de capital: a estimativa da XP é que seria necessária uma captação de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões;