Após a Royal Enfield iniciar produção na Zona Franca de Manaus, a conterrânea Bajaj, terceira maior do setor no mundo, anuncia operação na mesma fábrica.

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Dezembro de 2022 entrará para a história da indústria de motocicletas no Brasil como o mês em que duas fabricantes indianas anunciaram novidades que poderão mudar o mercado. Primeiro foi a marca de origem britânica Royal Enfield, hoje sediada na Índia. Ela chegou ao País discretamente em 2017 com a importação de apenas 317 unidades. Fechará este ano com 8.454 motos vendidas e parte de sua produção na Zona Franca de Manaus, conforme anúncio feito na capital amazonense no início do mês. Uma semana depois, na quarta-feira (14), a conterrânea Bajaj, terceira maior montadora de motocicletas do mundo, anunciou oficialmente o início de suas operações diretas no Brasil. Uma curiosidade: ambas dividirão a planta da Dafra, braço industrial do Grupo Itavema, um dos maiores revendedores automotivos do País. A Dafra também presta serviços de montagem em linha de produção industrial para as marcas Ducati (italiana, vinculada ao Grupo VW), KTM (austríaca) e produz com marca própria scooters da também indiana TVS e da chinesa Sym, de Taiwan.

A montagem das motos Royal Enfield mobilizará cerca de 250 funcionários, todos vinculados à Dafra. Para isso, houve investimentos de US$ 1,2 milhão da empresa indiana em ferramental, maquinários e instalações. O valor foi revelado pelo CEO da marca anglo-indiana, B. Govindarajan. Segundo ele, a capacidade instalada é de 15 mil unidades anuais. Dois modelos de 650 cm3 foram escolhidos para iniciar a operação brasileira: Interceptor e Continental. Motocicletas de maior cilindrada têm mais facilidade para usufruir das benesses fiscais que tornam o Polo Industrial de Manaus atraente. O modelo de fabricação adotado pela Royal Enfield no Brasil, inicialmente, é o CKD (sigla em inglês para Complete Knocked Down), em que as motos chegam da Índia totalmente desmontadas, mas completas. O índice de nacionalização é mínimo e deve começar por componentes como pneus e baterias.

EM MANAUS Na moto, o CEO global da Royal Enfield, B.Govindarajan◊ com funcionários da fábrica da Dafra. No destaque, o CEO no Brasil, Cláudio Ciusti. (Crédito:Divulgação)

A linha de montagem da Royal Enfield inaugurada em Manaus é a quarta da marca fora da Índia. Plantas na Tailândia, na Colômbia e na Argentina completam o parque internacional da montadora, que tem o Brasil como segundo maior mercado em vendas, atrás apenas do indiano. “Nossas vendas cresceram mais de 100% no Brasil em 2021”, disse Govindarajan. Naquele ano, foram vendidas 6.539 unidades da marca, contra 2.404 em 2020. O market share, que era de 2%, avançou para 4% no período. Este ano, chegou a 6%.

Nascida na Inglaterra, a Royal Enfield integra hoje o Grupo Eicher, que também produz caminhões e ônibus em joint-venture com a sueca Volvo. O CEO da Royal Enfield no País, Cláudio Giusti, já nomeou 21 concessionários. Segundo ele, a parceria com a Dafra é temporária, pois está nos planos da Royal Enfield ter a sua própria planta produtiva em Manaus em futuro próximo, que Giusti não quer antecipar com exatidão, afirmando que a instalação própria chega “em médio prazo”.

LIDERANÇA A Royal Enfield é líder mundial no segmento de motocicletas médias (entre 350 e 650 cm3 de cilindrada), e aposta em um estilo de motociclismo e de pilotagem que chama de “moto purismo”. Suas motos não são dotadas de tecnologias eletrônicas de ponta, como luzes em LED e computadores de bordo, mas oferecem uma ajustada relação custo-benefício. Além das já citadas Interceptor e Continental GT, a linha disponível no Brasil inclui a Meteor 350, uma pequena custom, e a recém-lançada Classic 350, que lembra um modelo dos anos 1960. Completa o portfólio a Himalayan, de uso misto, com motor de 411 cm3 e apelo aventureiro, com possibilidades de incursões fora de estrada. A próxima motocicleta da marca a chegar ao mercado brasileiro deve ser a Scram 411, versão da Himalayan com menos vocação para a terra e mais adequada para uso no asfalto.

Os modelos de 350 cc integram o projeto J da marca anglo-indiana, que prevê o lançamento de uma série de versões a partir do mesmo motor monocilíndrico, de projeto moderno. Dessa série, a próxima a chegar ao Brasil é a Hunter 350, modelo de entrada na marca vendido a preços extremamente competitivos em mercados externos. Deve chegar ao Brasil por cerca de R$ 20 mil.

Como a Bajaj quer dominar o mercado

MODELO DE ENTRADA A Dominar 160 será vendida no Brasil a R$ 18.680. A versão de 400 cc chega por R$ 24.200. (Crédito:Divulgação)

A indiana Bajaj também está de olho no mercado brasileiro. O início de suas operações diretas no Brasil inclui a fabricação, pela Dafra, de três modelos da família Dominar: de 160, 200 e 400 cm3. O diretor-executivo da empresa, Rakesh Sharma, não quis revelar o montante investido para a instalação no País, afirmando apenas que a empresa goza de boa saúde financeira e que os investimentos necessários serão feitos para a conquista de crescentes fatias do mercado. A operação de vendas começa com cinco concessionárias situadas dentro de um raio de 100 quilômetros da cidade de São Paulo: há duas lojas na capital paulista (zonas Sul e Oeste), uma em Santo André, uma em Jundiaí e uma em Campinas. Com o início das vendas no Brasil, a Bajaj opera em quase todos os países da América Latina, com a única exceção da Venezuela. Waldyr Ferreira, country manager da Bajaj do Brasil, afirmou que mais quatro estão em fase de credenciamento, para Salvador, Brasília, Florianópolis e Rio de Janeiro. Os modelos que estão à venda têm preços entre R$ 18.680 e R$ 24.200, já com o frete. A garantia é de três anos.