Crimes ambientais e narcotráfico elevam violência na Amazônia, diz Anuário

Crimes ambientais e narcotráfico elevam violência na Amazônia, diz Anuário

 


 (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

(Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

As taxas de mortes violentas intencionais (MVI) nas cidades da Amazônia Legal são 54% maiores que em outras regiões do país. O dado está presente na nova edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que associa o cenário ao crescimento de crimes ambientais e o avanço do narcotráfico internacional neste lado do país.

Em toda a Região Norte (que abarca sete de oito estados da Amazônia), foram registradas 6.462 mortes violentas intencionais no ano passado. O número é o maior em três anos, mas já chegou a 8 mil mortes em 2018. Quando a série histórica começou, em 2011, foram contabilizadas 3,3 mil mortes com essas características. 

Já o Amazonas foi o terceiro estado com mais mortes violentas em 2022, conforme reportagem publicada por A CRÍTICA, com base em dados do Anuário. Foram 38,8 óbitos por 100 mil habitantes com essas características. Só ficou atrás da Bahia (47,1) e Amapá (50,6), outro estado da Amazônia Legal.

"Pelo menos dois fatores parecem contribuir diretamente para o crescimento da violência letal na região da Amazônia Legal: a intensa presença de facções do crime organizado e de disputas entre elas pelas rotas nacionais e transnacionais de drogas que cruzam a região; e o avanço do desmatamento, garimpos ilegais e a intensificação de conflitos fundiários, que resulta também no crescimento da violência letal", avalia o relatório do Anuário.

A pesquisa considera ainda que o aumento da violência na região amazônica está associado à incapacidade atual do poder público de aplicar a lei e promover políticas assertivas de segurança pública.

"O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) tem defendido que, na Amazônia, outros arranjos federativos e de cooperação na prevenção e enfrentamento de crimes e violências sejam desenhados. A atual estrutura estatal não é capaz de, sozinha, dar conta desse enorme desafio", sugere o Anuário.

Subdimensão

À reportagem, o pesquisador especialista em segurança pública Fábio Candotti disse que os dados sobre a Amazônia mostram que o problema é grave. Por outro lado, ressalta que ainda faltam informações importantes para entender o cenário da violência na região. 

"A ausência de uma avaliação mais cuidadosa pelos governos estaduais mostra que essa gravidade está sendo negada. Como se essas vidas perdidas não importassem. Afinal, como se deram essas mortes? Quais são as motivações reais? Não basta colocar tudo na conta dos conflitos entre facções. Ano passado, uma pesquisa nossa mostrou que Manaus é hoje uma das cidades com maior taxa de linchamentos da história do Brasil. Mas não temos dados oficiais", comenta.

Quando se fala em violência associada a crimes ambientais, o pesquisador destaca que não é uma realidade presente apenas na Amazônia, mas também no sudeste, por exemplo. Ainda assim, vê a violência ser intensificada no contexto amazônico.

"O que temos por aqui, nos últimos anos, é a intensificação de violências antigas, de um velho modelo de desenvolvimento por extração predatória de recursos naturais. Esse modelo é, até hoje, estimulado pelas próprias elites políticas e econômicas locais e "estrangeiras". Esse é o nosso principal desafio. Não basta tentar prender quem trabalha na base desses mercados. O problema é mais em cima", afirma o especialista.

Investimento

Na semana passada, o governo federal anunciou R$ 2 bilhões em investimentos para o recém-criado Amazônia Mais Segura (AMAs), programa que busca combater crimes na região. Serão implantadas 34 bases terrestres e fluviais com cerca de seis mil agentes da Polícia Federal e dos estados. 

Além disso, Manaus será a sede de um novo centro de cooperação policial internacional, ideia citada pelo presidente Lula (PT) no início do mês, em viagem à Colômbia. A capital do Amazonas também recerá a Companhia de Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança. 

"Indicadores de violência cresceram na Amazônia e combater o narcogarimpo, combater o narcotráfico é proteger o Brasil, é fazer com que o Brasil combata o desmatamento", afirmou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, ao fazer o anúncio das novas medidas.

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