Moradores caminham longas distâncias para não sofrerem com desabastecimento devido à seca no AM

Moradores caminham longas distâncias para não sofrerem com desabastecimento devido à seca no AM


Águas de igarapés que vinham de rios eram usadas por moradores da Zona Rural para chegarem até Manaus. Com estiagem, agora eles precisam caminhar e enfrentar dificuldades para sobreviver.

Por Patrick Marques, g1 AM

Moradores de comunidade na Zona Rural de Manaus sofrem impactos da seca

Moradores de comunidade na Zona Rural de Manaus sofrem impactos da seca

Onde antes havia uma imensidão de água, passou a ser apenas um pequeno córrego cheio com lama. Milhares de famílias que vivem na Zona Rural de Manaus têm a navegação como principal meio de locomoção. Com a seca dos rios que assola o Amazonas, os moradores passaram a enfrentar dificuldades para terem seus sustentos e sobreviver.

A comunidade Nossa Senhora de Fátima, fica na Zona Rural de Manaus e é uma das que estão afetadas pela seca dos rios. A área costumava ser banhada pelo igarapé conhecido como "São José", o principal meio de deslocamento dos moradores para a cidade, para comprar seus mantimentos.

Comunidade Nossa Senhora de Fátima, fica na Zona Rural de Manaus costumava ser banhada pelo igarapé conhecido como "São José", principal meio de deslocamento dos moradores para a cidade. — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Só que com a seca dos rios no Amazonas, o igarapé se resumiu apenas a um pequeno córrego. O trecho que antes era feito pelos moradores por meio de pequenas embarcações, em pouco tempo, agora precisa ser feito a pé, embaixo de sol e por longas distâncias.

Igarapé que passava pela Comunidade Nossa Senhora de Fátima, na Zona Rural de Manaus, se resume em pequeno córrego durante seca no AM. — Foto: Patrick Marques/g1 AM

“Fica muito difícil. Ainda ontem, fomos para a cidade e foi um sacrifício. Para voltar, que trouxemos umas 'besteiras', botijão de gás, aí que foi ruim mesmo. Chegamos em casa todos melados de lama, abatidos", afirmou o aposentado Norato Gomes.

A pescadora Regina Santos, é vizinha de Norato e contou que, quando o rio está cheio, eles costumam ir de barco até a cidade para fazerem suas compras e, depois, retornam para suas comunidades. Com a seca, sobreviver virou uma prova de resistência para as famílias.

“Para fazer compras, a gente anda uma distância de 2 quilômetros até na praia. Tem essa dificuldade da lama. Entra na canoa, se atolando, chega na Marina. Depois vai, faz as compras, volta e a dificuldade maior é para trazer as coisas. O transporte vai só até onde dá e o resto, a gente precisa carregar. É uma distância longa, enfrenta o sol, é cansativo. É um atoleiro só. A gente precisa pagar uma carrocinha porque não tem condições de carregar tudo, quando tem a opção", contou.

Pescadora Regina Santos e o aposentado Norato Gomes andam longas distâncias em comunidade da Zona Rural de Manaus para conseguirem sustento, durante seca. — Foto: Patrick Marques/g1 AM

Como as famílias isoladas por água, uma ação feita pela Operação Estiagem, da Prefeitura de Manaus, levou mantimentos, água e kits de higiene para ajudar os moradores como forma de amenizar os impactos da seca.

Os kits começaram a ser entregues na quarta-feira (5) e devem seguir durante os próximos dias tanto para os moradores da Comunidade Nossa Senhora de Fátima, quanto para famílias de outras comunidades próximas, segundo a prefeitura.

Mantimentos, água e kits de higiene começaram a ser entregues para moradores da Zona Rural de Manaus afetados pela seca. — Foto: Patrick Marques/g1 AM

A comunidade nossa senhora do livramento, também vive a mesma situação. A água do igarapé que costumava ocupar uma grande parte da área e chegar próxima as casas, agora está tomada pela terra. Os moradores precisam enfrentar uma caminhada por horas dentro da mata, para chegarem à beira e conseguirem seu sustento.

A pescadora Rosângela Silva da Silva saiu da comunidade onde mora no início da manhã e caminhou por cerca de 3 horas por dentro da floresta, até chegar ao porto, onde os alimentos foram distribuídos para a população.

“Saímos umas sete horas da manhã de casa. Fica muito difícil para gente, ainda mais quem tem problema de pressão alta, problema de coração como eu. Fica difícil. Não tenho casa na cidade. Minha casa é aqui. Temos que continuar aqui e viver assim", afirmou Rosângela.

Moradores caminham longas distâncias para comprar mantimentos devido seca no AM. — Foto: Patrick Marques/g1 AM

Há quem diga que os rios são as estradas da região. Mas, agora, só o que resta deles é o vazio e esperanças de dias melhores para os moradores afetados pela seca que assola a natureza e quem nela vive.

“A esperança é que o rio volte a encher logo. Pare de secar, primeiramente e logo volte a encher, porque a cada dia que passa fica mais difícil. Hoje está ruim, mas amanhã vai ficar pior porque a cada dia que passa só vai secando. Não está fácil", finalizou Regina Santos.

Rio Negro seco

A vazante histórica que o Amazonas vem enfrentando deixou parte do Rio Negro seco próximo a Ponte Phelippe Daou, um dos principais pontos turísticos do estado.

Parte do Rio Negro secou próximo ao Cacau Pirêra. — Foto: Michel Castro/Rede Amazônica

Imagens que mostram o antes e depois, dão a dimensão de como o cenário mudou. Enquanto na época de cheia, o rio chegava até as margens do Distrito de Cacau Pirêra, em Iranduba, na seca, a paisagem dava lugar a uma faixa de terra gigante e com resquícios do que antes era o rio.

Trecho do Rio Negro antes da seca de 2023. — Foto: Rede Amazônica

O trecho, por onde grandes embarcações trafegavam, se transformou em chão repleto de rachaduras. Agora, é possível fazer o trajeto a pé.

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