Seca severa afasta Rio Negro de Manaus e muda rotina de trabalhadores: 'é a pior que já vi'

Seca severa afasta Rio Negro de Manaus e muda rotina de trabalhadores: 'é a pior que já vi'


Porto de Manaus durante a vazante de 2023. — Foto: William Duarte/Rede Amazônica
1 de 12 Porto de Manaus durante a vazante de 2023. — Foto: William Duarte/Rede Amazônica

Seca 2023 no porto de Manaus, no Centro — Foto: Bianca Fatim/ g1

O Porto de Manaus é a porta de entrada e saída da capital amazonense por meio fluvial. No local, além de receber passageiros, os barcos transportam insumos da capital para os municípios do interior do estado.

Seca 2023, no bairro Educandos em Manaus — Foto: Bianca Fatim/ g1

Para realizar o trabalho de levar essas cargas até o barco, carregadores são contratados para realizar esse serviço. No entanto, com o Rio Negro cada vez mais seco, o trabalho não está mais sendo feito com frequência e tem afetado a vida dos trabalhadores.

Na cheia - de fevereiro a julho - o rio chegava até as margens da rua e tinha uma pequena faixa de terra. Na seca, a situação é diferente. Há uma faixa de terra com mais de 600 metros de distância entre as embarcações e a via que dar acesso ao local.

Carregador Genivaldo Ferreira está sendo afetado pela Seca 2023. — Foto: Carlos Serra/Rede Amazônica

O carregador Genivaldo Ferreira da Silva, que trabalha no Porto de Manaus na região do Educandos, conta que em época de cheia eles retiram as cargas das balsas que chegam e saem durante o dia todo. Entretanto, nesta seca, a balsa encalhou e não tem mais a rotatividade de antes.

Trabalhando há 13 anos na função, ele revelou que nunca viu uma seca tão severa quanto essa.

"Está afetando para nós todos que trabalha aqui direto, nós estamos sem condições de trabalhar porque não tem movimento. O que tem é a balsa parada aí, o resto está tudo parado e com essa seca não sei como vai ficar. [...] . Essa foi a pior seca que eu já vi no Amazonas. Ela está afetando todos nós", disse o carregador.

Agricultores e feirantes afetados

Pescador e agricultor conta os efeitos da seca na sua vida. — Foto: Carlos Serra/Rede Amazônica

Os carregadores de carga não são os únicos afetados. Pescadores e agricultores que trazem insumos do interior do Amazonas, estão enfrentando uma intensa logística para chegar em Manaus e transportar seu material de venda.

O agricultor e pescador Berlamino Pereira é morador da Ilha da Marchantaria, em Iranduba, traz diariamente peixes, verduras e frutas para a capital amazonense em uma embarcação de porte médio. O material é vendido para feirantes da Feira Manaus Moderna.

Em época de cheia, consegue trazer uma carga grande. No entanto, na vazante deste ano, o número caiu pela metade pois precisa navegar em uma pequena embarcação.

"Antes a gente trazia 100 frutas, agora 50 melancias, porque a embarcação é pequena. Tanto a dificuldade para embarcar, para chegar na canoa porque é uma longa distância, quanto para trazer para cá. Peixes estão morrendo demais. Caiu quase 70% meu faturamento. Até água para os animais é ruim para carregar", contou o agricultor.

Berlamino comercializa o seu material para o feirante Edson Cardoso, que trabalha na Manaus Moderna há mais de 40 anos. Com as dificuldades do agricultor e pescador, a banca de peixes e verduras do feirante também é prejudicada.

Edson conta que teve a sua venda de peixes afetada por conta da seca 2023. — Foto: Bianca Fatim, g1 AM

Edson, conhecido como "Chimbinha" na feira, conta que em todos os anos trabalhando na orla de Manaus e presenciando os fenômenos climáticos, nunca viu uma seca tão difícil quanto a de 2023.

"Ainda não vi uma seca tão ruim quanto essa. A de 2012 também foi difícil, porque afetou a gente, mas essa esta afetando muito mais. A gente sente prejudicado, porque está difícil para eles trazerem o peixe, para chegar até aqui e por isso, a gente sofre também", disse o feirante.

Longos percursos

Seca 2023 no porto de Manaus, no Centro — Foto: Bianca Fatim/ g1

Com a longa faixa de areia, em torno de 300 metros, que se formou em frente ao Porto de Manaus, os embarques para os barcos também está sendo afetados.

Passageiros que precisam embarcar para sair de Manaus descrevem uma série de dificuldades para chegarem até o barco.

Seca 2023 no porto de Manaus, no Centro — Foto: Bianca Fatim/ g1

Além de lidar com a distância, os passageiros carregam bagagens pesadas até a embarcação, em uma caminhada de 8 minutos. A areia quente, devido as altas temperaturas que Manaus vem enfrentando, é outro problema. Se não tiver com o sapato adequado, a terra pode até causar queimaduras nos pés de quem passa por ali.

A agente comunitária de saúde Simone do Nascimento mora na Comunidade Nossa Senhora Conceição, no Careiro, e vai a Manaus pelo menos uma vez a cada duas semanas para fazer compras.

Seca 2023 no porto de Manaus, no Centro — Foto: Bianca Fatim/ g1

Antes, ela pegava uma rabeta - um embarcação pequena com motor - na orla do bairro Puraquequara, Zona Leste de Manaus. No entanto, a região secou e com isso, foi encerrado o transporte de barcos.

Simone precisa enfrentar longas distâncias para chegar em sua casa durante a seca, no Amazonas. — Foto: Carlos Serra/Rede Amazônica

Com isso, Simone precisa ir até o Porto de Manaus e pegar uma lancha que faz transporte pela região Metropolitana da capital, para chegar até a sua casa. O trajeto que antes da seca durava 30 minutos, agora dura quatro horas.

Antes não precisávamos passar por tudo isso aqui. Antes não tinha essa praia, aí agora é puxado. Antes a gente saía do Puraquequara e agora não tem nada lá. Está tudo seco. Antes eram 30 minutos, agora é mais de 4 horas. Porque chegando lá, eu enfrento outra praia e subimos o barranco. Aí fazíamos compras e voltávamos. Com essa seca, está muito difícil.

Rio Negro seco

Parte do Rio Negro secou próximo ao Cacau Pirêra. — Foto: Michel Castro/Rede Amazônica

A vazante histórica que o Amazonas vem enfrentando deixou parte do Rio Negro seco próximo a Ponte Phelippe Daou, um dos principais pontos turísticos do estado.

Imagens que mostram o antes e depois, dão a dimensão de como o cenário mudou. Enquanto na época de cheia, o rio chegava até as margens do Distrito de Cacau Pirêra, em Iranduba, na seca, a paisagem dava lugar a uma faixa de terra gigante e com resquícios do que antes era o rio.

Trecho do Rio Negro antes da seca de 2023. — Foto: Rede Amazônica

O trecho, por onde grandes embarcações trafegavam, se transformou em chão repleto de rachaduras. Agora, é possível fazer o trajeto a pé.

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