Tremor de terra em 2018 chamou atenção para consequências da mineração. Afundamento do solo é 'risco iminente', alerta Defesa Civil.
Por Cau Rodrigues, g1 AL
Atividade de mineração da Braskem em Maceió começou na década de 1970, com extração de sal-gema, usado para fazer soda cáustica e PVC.
Em 2018 surgiram as primeiras rachaduras, que se intensificaram após tremores naquele mesmo ano; só em 2019 começaram evacuações.
Cerca de 60 mil pessoas precisaram deixar suas casas em cinco bairros, que se tornaram fantasmas.
Após 5 tremores só em novembro, foi identificado risco de desabamento em uma das minas; um hospital transferiu seus pacientes para outras unidades de saúde.
Entenda risco de colapso de mina da Braskem em Maceió
Já se passaram 5 anos desde que os moradores do bairro do Pinheiro, em Maceió, perceberam as primeiras rachaduras nos imóveis, em 2018. O problema causado pela mineração se agravou, afetou outros quatro bairros e levou à evacuação de cerca de 60 mil pessoas. Na última segunda-feira (27), o alerta de colapso em uma das 35 minas da Braskem deu início a um novo episódio.
Até as 17h desta sexta (1), o solo da mina 18 para extração de sal-gema cedeu 1,43 m, segundo a Defesa Civil Municipal. Ao colapsar, o que pode acontecer a qualquer momento, a cratera pode atingir outras duas minas vizinhas e abrir uma cratera do tamanho do estádio do Maracanã.
Veja a cronologia dos fatos:
- A mineração em Maceió começou na década de 1970, com a Salgema Indústrias Químicas S/A, que depois passou a se chamar Braskem. A extração de sal-gema, minério utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC, tinha autorização do poder público.
- Em fevereiro de 2018, surgiram as primeiras grandes rachaduras no bairro do Pinheiro, uma delas com 280 metros de extensão. No mês seguinte, um tremor de magnitude 2,5 agravou as rachaduras e crateras no solo, provocando danos irreversíveis nos imóveis.
- Só então foram emitidas as primeiras ordens de evacuação para moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Com o problema se agravando, a ordem também foi ampliada para parte do Bom Parto e do Farol.
- Um Programa de Compensação Financeira foi criado ainda no final de 2019 pela Braskem para indenizar os proprietários dos imóveis que tiveram que ser desocupados. Os moradores da região que discordavam dos valores oferecidos movem ação na Justiça contra a mineradora.
- Em janeiro de 2022, já com grande parte dos bairros afetados desocupados, foi iniciada a demolição de 2 mil imóveis localizados na encosta do Mutange, a primeira etapa de um projeto de demolições em uma área com cerca de 200 mil m².
- Após indenizar a maior parte dos proprietários dos imóveis das áreas desocupadas, a Braskem firmou acordo, em janeiro de 2023, para ressarcir a Prefeitura de Maceió em R$ 1,7 bilhão em em razão dos prejuízos causados à capital com o afundamento do solo.
- Ao longo do ano de 2023, moradores do Bom Parto que ainda vivem na borda da área de risco realizaram diversos protestos cobrando inclusão no Programa de Compensação Financeira da Braskem, mas a Defesa Civil Municipal afirmava que não havia risco para essas moradias.
- Contudo, após 5 tremores de terra somente no mês de novembro, a Defesa Civil de Maceió alertou para o "risco de colapso em uma das minas" próximo da lagoa Mundaú e os moradores do Bom Parto foram obrigados a sair de casa às pressas sob ordem da Justiça Federal, que autorizou até uso da força policial caso as pessoas resistam a deixar o local.
- O professor da UFAL Abel Galindo, engenheiro civil com mestrado em geotecnia pela UFPB, avalia que há uma grande probabilidade de o desabamento da mina 18 afetar também duas minas vizinhas, formando uma cratera em que caberia o estádio do Maracanã na área da lagoa, tornando a água salgada e afetando o ecossistema na região "de forma bastante trágica".
- A gravidade da situação levou a Prefeitura de Maceió a decretar situação de emergência, que foi reconhecida pelo governo federal nesta sexta-feira (1).
Mina de extração de sal-gema em Maceió cede quase 2 metros em 72 horas — Foto: Arte/g1
VÍDEO: Maceió está em alerta máximo para risco de desabamento de mina da Braskem
Maceió está em alerta máximo para risco de desabamento de mina usada pela Braskem para a exploração de minério
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