Renato Cariani: veja novas informações do inquérito que indiciou influencer fitness por tráfico de drogas

Renato Cariani: veja novas informações do inquérito que indiciou influencer fitness por tráfico de drogas


Aos mais de 7,5 milhões de seguidores em uma rede social, ele segue postando sobre o dia a dia. Dando orientação sobre alimentação e atividade física.

Mas mensagens encontradas pela Polícia Federal trazem novas evidências da relação de Cariani com um esquema de desvio de produtos químicos para o tráfico de drogas. O celular é de uma funcionária e amiga dele, que ainda vai ser investigada.

O aparelho foi apreendido em uma ação da PF contra o influencer e outras 12 pessoas. O Fantástico mostrou essa operação, em dezembro do ano passado. Segundo a denúncia aceita pela Justiça, Renato Cariani e outras pessoas produziram, venderam e forneceram mais de 12 toneladas de produtos químicos destinados à preparação de drogas.

“O grupo empresarial de Renato Cariani - com sede em Diadema, na Grande São Paulo - simulou a venda de insumos químicos para grandes pessoas jurídicas com o objetivo de ocultar o repasse dessas mercadorias para o refino e adulteração de cocaína e crack”, diz o documento da investigação, que aponta que entre 2014 e 2020 foram emitidas pelo menos 60 notas fiscais fraudulentas para três empresas, uma delas a farmacêutica AstraZeneca, que fez a denúncia em 2019.

Investigação traz novos detalhes da investigação sobre Renato Cariani. — Foto: TV Globo/Reprodução

“De acordo com a AstraZeneca, a empresa jamais adquiriu qualquer insumo da Anidro – empresa de Cariani”, diz a investigação.

Na época, Cariani apresentou à polícia um e-mail de negociação com um suposto representante da farmacêutica, Augusto Guerra e a investigação descobriu que essa pessoa não existe. Quem criou esse e-mail, segundo a PF, foi Fábio Spíndola. De acordo com a investigação, o elo entre Renato Cariani e traficantes de drogas.

Novas provas

Segundo as mensagens registradas no celular da funcionária de Cariani, Renato e Fábio fizeram uma viagem juntos, em 2015. Funcionária também foi e todos levaram seus companheiros. Em uma das conversas, Carinani discutiu com ela os preparativos.

“Você vai querer os dólares? O amigo do Fabinho vai acabar vendendo tudo e você vai ficar sem. Amanhã ele vai lá na empresa entregar os meus R$ 2 mil dólares que comprei com amigo dele”, diz o influencer.

Conversa entre Cariani e a funcionária. — Foto: TV Globo/Reprodução

Para o Ministério Público, a viagem a Cancún comprova que Cariani e Fábio eram amigos. Inclusive, as esposas tinham fotos juntas na rede social.

Outra evidência coletada pela PF: em maio do ano passado, Cariani pediu a Fábio para ir à sede da Anidrol para uma conversa.

“Coincidentemente, no mesmo dia em que Fábio foi preso pela operação Downfall, da Polícia Federal do Paraná”, diz o procurador de justiça Juliano Atoji.

A operação citada pelo procurador foi a que desarticulou um esquema que usava mergulhadores para colocar drogas nos cascos de navios. De acordo com as investigações, Fábio tinha ligações com o chefe da quadrilha.

“Fornecia contas bancárias de empresas sua e da sua esposa para movimentar esse dinheiro do tráfico", conta o delegado da PF, Eduardo Verza.

Carregamento suspeito

De acordo com a investigação, outro ponto crucial liga Renato Cariani a Fábio Spínola: o carregamento de um carro com produtos químicos nas dependências da Anidrol - a empresa de Cariani, em 2017.

No celular apreendido pela Polícia Federal com a funcionária, o marido dela - que também trabalha na empresa - relata um pedido do chefe:

" Todo mundo já foi embora. eu vou ter que separar um material pra AstraZeneca. O Renato... liguei pra ele, ele falou pra eu quebrar esse galho dele e separar esse produto" , disse, antes de mandar uma foto do carro por mensagem.

Foto de carro foi enviada por mensagem. Ele era da esposa de Fábio Espíndola. — Foto: TV Globo/Reprodução

Segundo a Justiça, o carro estava no nome da esposa do Fábio. A PF explica que, neste mesmo dia do carregamento, foi emitida uma nota fiscal fraudulenta em nome da AstraZeneca para a venda de éter e cloridato de lidocaína, produtos que teriam sido desviados para a produção de drogas.

O que dizem os investigados

A defesa de Fábio Spínola e da mulher dele, Andreia Domingues Ferreira, diz que Fábio é inocente, o que será devidamente esclarecido. Diz ainda que ele nunca usou o nome da mulher para realizar qualquer transação.

Sobre o veículo fotografado dentro da empresa de Cariani, a defesa de Fábio diz que nunca foi utilizado para transporte de qualquer produto químico. Os dois são réus no processo.

Por duas vezes o Fantástico pediu para falar com Renato Cariani, tanto na primeira reportagem como agora, ele não quis gravar entrevista. O advogado de Cariani informou, por telefone, que ele não quer se pronunciar.

O defensor respondeu por escrito algumas perguntas enviadas pela reportagem.

Questionado se, diante dos fatos, Cariani fez alguma auditoria interna para apurar o que aconteceu na empresa dele, o advogado respondeu que apresentou para a Justiça mais de 100 documentos que mostram que a empresa de Cariani pode ter ido vítima, mas não disse de quem.

Disse ainda que Cariani nunca negou a relação de amizade com Fábio, que os dois têm casas no mesmo condomínio e esposas bastante próximas.

Sobre o carro da mulher de Fábio flagrado no estacionamento da Anidrol, a defesa de Cariani diz que não é prática de mercado cruzar placa do veículo e do comprador no momento do carregamento e que ficou surpresa com a informação.

Uso do nome de crianças

“Amiga, consegue dois nomes de crianças com dados dos pais pra mim, por favor”, diz uma mensagem.

Por mensagem, Renato Cariani pede dados de crianças. — Foto: TV Globo/Reprodução

A defesa disse que jamais houve uso de receitas falsas. À época, ele usava esse medicamento com acompanhamento profissional, mas não explicou por que pediu os dados de pais de crianças.

Amigos policiais

Outro episódio registrado no celular também vai ser apurado. O ano era 208 e a Polícia Civil havia recebido a mesma denúncia que serviu de base para a investigação da Polícia Federal. Fez uma vistoria numa empresa ligada à Anidrol e, também, de Cariani.

A funcionária avisa: “Só para te avisar, seus amigos policiais estiveram aqui. Foi tranquilo. Ele diz que depois te liga”.

Cariani responde: “Que bom que são meus amigos, querida”.

O promotor diz que será apurado eventual desvio, caso tenha indício. Ao Fantástico, a Secretaria de Segurança Pública disse que o inquérito policial da época foi arquivado e que não há registro de irregularidades praticadas por policiais que participaram da investigação e que não foram notificados do pedido de reabertura do caso.

Questionado sobre os "amigos policiais", a defesa diz que Cariani fala de uma fiscalização que já tinha ocorrido e que a referência a serem amigos indica simplesmente que a análise da documentação seria feita de forma imparcial, sem abuso investigativo.


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