Facções e milícias alcançam vizinhança de ao menos 28,5 milhões de brasileiros, aponta Datafolha

Facções e milícias alcançam vizinhança de ao menos 28,5 milhões de brasileiros, aponta Datafolha

 Número de pessoas que relatam presença do crime organizado no próprio bairro aumentou

Dados indicam maior captura de territórios e mercados, diz Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Barricada com a inscrição do Comando Vermelho (CV) é retirada durante operação policial no complexo de favelas da Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio - Eduardo Anizelli - 31.jan.24/Folhapress

Porto Velho, RO - Facções criminosas e milícias aumentaram sua presença no Brasil e alcançaram a vizinhança de 19% da população brasileira. É o que aponta uma pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O resultado indica que no mínimo 28,5 milhões de pessoas conviveram com o crime organizado no bairro onde vivem, considerada a margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O crescimento foi de cinco pontos percentuais em 12 meses —na pesquisa do ano passado, 14% dos entrevistados afirmavam ter contato com grupos criminosos, o que correspondia a 23 milhões de pessoas.

Um total de 2.007 pessoas com mais de 16 anos foi entrevistado em 130 municípios de todas as regiões do Brasil, de 2 a 6 de junho, sobre situações de violência. O questionário passa pela percepção sobre o crime organizado, roubos, agressões e golpes financeiros praticados em plataformas digitais.

A presença de facções criminosas e milícias foi relatada com mais frequências em grandes cidades (com mais de 500 mil habitantes), nas capitais e na região Nordeste. Ricos e pobres relataram a presença do crime organizado em suas vizinhanças com frequência similar:

Enquanto 19% daqueles que ganham até dois salários mínimos (R$ 3.036) respondem afirmativamente, 18% dos entrevistados com renda de cinco a dez salários (R$ 7.590 a R$ 15.180) dizem o mesmo.

Aqueles que se autodeclaram pretos também são mais afetados pela presença ostensiva do crime organizado, em comparação com a população branca —23% do primeiro grupo, e 13% do segundo.

Quem afirma ter sofrido com a presença do crime organizado no local onde mora também relata, com maior frequência, ter conhecimento sobre cemitérios clandestinos nas cidades onde mora. E também afirma encontrar grandes grupos de usuários de drogas, ou cracolândias, nos trajetos diária até o trabalho ou a escola.

Um a cada quatro entrevistados (27%) que vivem em áreas com presença do crime organizado relata conhecer cemitérios clandestinos —para a população em geral, a proporção é de 16%.

Da mesma forma, 4 em cada 10 pessoas que moram nesses territórios também dizem encontrar cracolândias em seus trajetos diários. Nos dois casos, a proporção de pessoas que relatam esses problemas cresceu desde 2024.

"Os dados da pesquisa parecem estar revelando um fenômeno de crescimento e de ampliação do poder de captura das facções em relação ao controle de territórios e mercados", diz o diretor-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima.

Ele destaca que a pesquisa foi feita antes das operações Carbono Oculto, Quasar e Tank, que apontaram para a infiltração do PCC (Primeiro Comando da Capital) no setor de combustíveis e no setor financeiro do país e tiveram ampla cobertura midiática —enfraquecendo, portanto, a possibilidade de que o noticiário tenha influenciado os resultados da pesquisa.

A pesquisa explora outros fenômenos ilegais, como a oferta do serviço de vigilância privada por policiais de folga, prática que é expressamente proibida na maior parte dos estados. Um em cada cinco entrevistados diz que isso ocorre nos bairros onde mora, uma estatística que também cresceu desde o ano passado: foi de 18% para 21%.

Não houve coincidência relevante entre aqueles que relataram conviver com o crime organizado e a segurança privada ilegal. Esse resultado descartou a hipótese de que serviços de segurança oferecidos por policiais atuem como milícias incipientes, segundo o diretor-presidente do Fórum.

Além disso, 16% dos entrevistados disse já ter presenciado abordagens violentas da Polícia Militar. A taxa é mais alta entre os mais jovens (25% daqueles de 16 a 24 anos de idade), entre homens e moradores dos grandes centros urbanos (21%, nos dois casos). No ano passado, o grupo que respondia "sim" à mesma pergunta correspondia a 14% dos entrevistados (uma variação no limite da margem de erro).

Há também 8% que responderam que já tiveram parentes ou conhecidos que estão ou já estiveram desaparecidos. Isso corresponde a 13,4 milhões de pessoas. A proporção é maior nas classes D e E, as mais pobres.

Para Renato Sérgio de Lima, os dados indicam a necessidade de melhorar a coordenação entre órgãos de segurança e criar políticas duradouras de combate ao crime organizado. "Quando se coordena as diferentes agências e suas competências, o resultado é muito bom. O problema é que a escala disso, pelo tamanho do problema, ainda é muito residual", ele diz.

Fonte: Folha de São Paulo

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