Alta no preço dos produtos pressiona o orçamento das famílias brasileiras, principalmente as mais pobres, há meses

Em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, a aposentada Fátima Pereira, de 64 anos, queixa-se do preço das carnes, que necessita para o preparo das refeições que vende como reforço no orçamento doméstico. "Está muito caro, eu comprava o quilo de acém por R$ 11, agora passou para R$ 28", comenta.

As queixas podem aumentar. A nova valorização do dólar ante o real pode turbinar uma nova rodada de reajustes no preço dos alimentos, que há meses pressionam o orçamento das famílias brasileiras, especialmente as mais pobres.

No mês de setembro, os alimentos comprados nos supermercados estavam 14,66% mais caros em relação a um ano antes, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Rio Branco (AC), o custo da alimentação no domicílio subiu 21,23% nos últimos 12 meses, e em São Luís (MA), 17,38%.

Soja, milho e trigo

"Desde o dia 7 de setembro, o dólar acumula uma valorização de 10% em relação ao real, o que significa mais possibilidade de termos pressão de inflação de alimentos", afirmou André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O dólar pressiona os preços de grãos como soja, milho e trigo, que contaminam derivados como óleo de soja, massas e panificados, assim como carnes de animais dependentes de ração, aves e suínos. A crise hídrica já vinha ajudando a elevar o custo desses alimentos, que inicialmente ficaram mais caros no atacado, mas os reajustes já chegam ao varejo.

À medida que os efeitos da crise hídrica foram se apaziguando sobre as lavouras, a questão cambial foi se agravando", lamentou Braz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.