- O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – calculado pelo IBGE – acumula alta de 10,25% até setembro; e
- O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – apurado pela FGV – subiu 9,57% nos 12 meses até outubro.
Para calcular a 'inflação do motorista', o Ibre levou em conta uma série de itens, além da variação do combustível. No cálculo, estão preço do automóvel novo e usado, gasto com peças e acessórios, seguro, entre outros. Veja abaixo como ficou o índice:
Preços para o motorista estão em disparada
Inflação acumulada nos 12 meses encerrados em outubro de cada ano
A gasolina, o GNV (Gás Natural Veicular) e o etanol têm sido o principal vilão", afirma Matheus Peçanha, pesquisador do Ibre a autor do levantamento.
A gasolina e o GNV têm sido prejudicados pelo barril de petróleo, que tem subido de preço por causa da política da Opep, de reduzir a produção. E há o impacto do câmbio porque a Petrobras reajusta os seus preços com base nessas duas variáveis", acrescenta
Já o preço do etanol acumula uma alta expressiva por causa da crise climática, que prejudicou a produção de cana de açúcar.
O motorista sofre ainda com o desarranjo das cadeias de produção por causa da pandemia.
A combinação entre a interrupção das fábricas e a retomada econômica acelerada de boa parte dos países provocou uma escassez de chips no mundo todo e, consequentemente, de peças, o que fez com que várias montadoras fossem obrigadas a interromper a produção de automóveis.
Com esse descompasso, houve uma queda na oferta de veículos novos e, consequentemente, um aumento na procura por carros usados. O resultado foi uma alta de preços generalizada.
"Na esteira provocada pela falta de peças e não ter carro novo para vender, houve uma demanda maior por carro usado", diz Peçanha. "E essa demanda maior elevou o preço do carro usado. Toda essa conjuntura gerou uma inflação monstruosa ao motorista."Nas ruas, perda de renda
Nas ruas, os brasileiros que trabalham como motoristas sentem na veia a alta da inflação e amargam grandes perdas na renda.
Desde 2016 trabalhando como taxista, Yago Costa, de 28 anos, diz que 50% do seu faturamento "fica na rua por causa de gastos com refeição e combustível".
Uma parte do que sobra vai para gastos relacionados ao trabalho, como seguro ou uma eventual manutenção do veículo. "Não está sobrando quase nada, para falar a verdade."
Com uma renda tão reduzida, Yago teve de cortar lazer e trocou a carne pelo frango.
"Hoje, sair é muito raro. Saímos uma vez no mês e olhe lá", diz o motorista, que mora com a esposa e um filho. "E mudamos até mesmo a alimentação: quando a carne está cara, você vai no frango. É assim que vamos tentando driblar a inflação e a crise."
A história de Valter Bernardo da Silva, 44 anos, segue o mesmo roteiro.
Ele é taxista há 16 anos e, com a queda na renda, passou a trabalhar com aplicativos para aumentar o seu ganho.
A minha renda hoje é praticamente 50% do que ganhava há uns quatro anos", diz Valter. "Antes dos aplicativos era uma coisa; depois dos aplicativos é outra coisa. E, agora, com esse aumento sem controle dos combustíveis é, de novo, outra coisa."
Agora, Valter tenta equilibrar a renda trabalhando para aplicativos.
As corridas de táxi diminuíram bastante e não adianta ficar reclamando, procurando culpado porque a situação do Brasil não é fácil", afirma. "O que eu preciso fazer é achar uma saída, uma solução para o meu problema. E é isso que tento fazer ao trabalhar com os demais aplicativos. Vou equilibrando a minha renda e consigo sobreviver, não como antigamente, mas consigo pagar as contas."
E o que esperar do futuro?
Na avaliação do pesquisador do Ibre, no ano que vem, o preço da gasolina deve seguir pressionado porque não indicativo de que a Opep decida aumentar a produção para dar conta da demanda, o que poderia levar a uma queda na cotação do barril do petróleo.
O preço dos combustíveis também pode ser pressionado por causa do câmbio. Em 2022, o Brasil vai eleger um novo presidente, e anos eleitorais costumam ser de bastante turbulência no mercado financeiro.
"Em 2022, a gente pode continuar com petróleo e câmbio pressionados, e aí a gasolina vai seguir cara”, afirma Peçanha. "Mas o problema climático, que estava impactando o etanol, já tem melhorado. Então, os preços da cana e, consequentemente, do etanol podem voltar para a normalidade."
Por fim, o economista ainda avalia que as cadeias de produção devem se normalizar, evitando uma nova alta no preço dos automóveis.
A questão das peças parece que já foi solucionada. Os insumos para a produção de carro novo mais baratos podem trazer o preço do automóvel novo para a normalidade. E isso também pode sanar a demanda pelo automóvel usado", diz Peçanha.
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