/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/k/U/yJnMjpRliqbZLPIX4g6A/img-3345.jpg)
Bebê yanomami de um mês foi resgatado nesta sexta-feira (27) — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
Com apenas um mês de vida, uma recém-nascida Yanomami foi uma das quatro crianças resgatadas na tarde desta sexta-feira (27) da Terra Indígena e levadas para Boa Vista. Diagnosticada com malária, pneumonia e gripe, ela precisou ser removida com uso de oxigênio e soro para aguentar o voo de 1h20 até chegar à capital, onde recebeu o socorro adequado.
A Terra Yanomami, maior reserva indígena do país, está no extremo norte do território brasileiro e é uma região de difícil acesso. Na maioria das comunidades, só é possível chegar de avião. E é por este meio que são feitos os resgates dos pacientes.
Desde que foi declarada a emergência em saúde na região, a Voare, única empresa de aviação que presta o serviço para a Saúde Yanomami, tem feito cada vez mais resgates.
"Geralmente, trazíamos um paciente em um voo. Agora, tem dias que chegamos a trazer três por voo", afirma Fausto Rodrigo dos Santos, diretor de Operações da empresa, que faz em média 16 voos de resgates por dia.
A recém-nascida resgatada na sexta foi transportada a Boa Vista com a mãe, de 14 anos, além uma médica do Distrito de Saúde Indígena Yanomami (Dsei-Y) e uma enfermeira. O g1 acompanhou a chegada delas.
Mãe e filha são da comunidade de Palimiú, uma das mais ameaçadas pelo garimpo ilegal e palco de um dos maiores conflitos da história recente do território Yanomami. Após viajar os 270 quilômetros que separam a comunidade de onde saíram da capital do estado, elas desceram na pista de pouso da empresa, localizada no município do Cantá, nos arredores de Boa Vista.
Ela foi levada para o Hospital da Criança, em Boa Vista — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
Ao chegarem, não havia ambulância esperando para socorrer a recém-nascida. O bebê foi levado para o Hospital da Criança Santo Antônio, o único hospital infantil do estado, em uma caminhonete do Dsei-Y.
Até a tarde desta sexta-feira, havia 59 indígenas internados lá, sendo 45 crianças Yanomami. Oito estavam na UTI, duas intubadas. As principais causas dessas internações são desnutrição grave, diarreia aguda, pneumonia e malária, como no caso da bebê resgatada.
Bebê Yanomami estava acompanhado da mãe, de 14 anos — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
A enfermeira que acompanhou o resgate da recém-nascida atua na Voare. Além dela, a empresa conta com um médico que também atua nas remoções.
"O voo de resgate dela foi tranquilo. Geralmente pedem a remoção quando o quadro pode piorar. Como malária é uma doença que pode se agravar muito, e o polo base não tem estrutura, eles [servidores do Dsei-Y] pedem logo para fazer a remoção", explicou a profissional.
Criança está com sintomas de pneumonia e malária — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
A enfermeira conta que a maioria das remoções feitas pela empresa são por desnutrição, malária e pneumonia. "No avião, a gente voa com um médico. Dentro, tem todos os medicamentos necessários para garantir uma viagem tranquila ao paciente. Tem dispositivos aéreos, oxigênio, um profissional habilitado. Tudo isso torna o voo tranquilo mesmo sendo um caso grave."
Avião usado no resgate em Palimiú, na Terra Indígena Yanomami — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
Investigação de genocídio
Indígenas Yanomami enfrentam uma grave crise sanitária na reserva causada pelo avanço do garimpo ilegal e pelo descaso do governo Bolsonaro. A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) apuram indícios de genocídio contra o povo Yanomami e omissão de socorro.
Agora, com o novo governo federal, o Ministério da Saúde e órgãos de assistência enviaram equipes para socorrer os indígenas que ficaram abandonados nos últimos anos.
Foi declarada emergência de saúde pública, e um hospital de campanha foi montado em Boa Vista para ampliar o atendimento. O governo criou o Comitê de Coordenação Nacional para discutir e adotar medidas em articulação entre os poderes para prestar atendimento à população.
Desnutrição grave
Há casos de crianças resgatadas com um peso muito abaixo do que seria normal para a idade. Uma menina de 4 anos foi atendida pesando 9,9 kg, o equivalente a um bebê de 8 meses, quando o ideal seria 16 kg para a idade dela.
O atual governo federal estima que ao menos 570 crianças morreram na região nos últimos quatro anos, vítimas de desnutrição, malária, pneumonia e contaminação por mercúrio.
0 Comentários