Nos autos do processo, o PL alega que o ex-juiz tentou driblar a legislação eleitoral em dois movimentos: na desistência em concorrer ao Palácio do Planalto que teria o levado a exceder o gasto limite de campanha e na migração partidária do Podemos para o União Brasil.

"O que se inicia como uma imputação de arrecadação de doações eleitorais estimáveis não contabilizadas, passa pelo abuso de poder econômico e termina com a demonstração da existência de fortes indícios de corrupção eleitoral", diz trecho da ação.

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25/02/2020 - Envio de vídeos por WhatsApp convocando para manifestações contra o Congresso e o STF, com frases como "vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil" e "vamos resgatar o nosso poder" — Foto: Reprodução09/03/2020 - "Acredito, pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu tinha sido, eu fui eleito no primeiro turno, mas no meu entender teve fraude. (...) Nós precisamos aprovar no Brasil um sistema seguro de apuração de votos", disse Bolsonaro durante viagem a Miami, nos EUA — Foto: Gaston de Cadernas/AFP
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19/04/2020 - "Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas (...). Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder", discursou Bolsonaro em ato com pedidos de intervenção militar, diante do QG do Exército — Foto: Evaristo Sá/AFP
Entre fevereiro de 2020 e dezembro de 2022, ex-presidente fez 46 ataques aos outros Poderes e à confiabilidade das urnas eletrônicas

Sobre ter desistido de concorrer à Presidência, o processo alega que o ex-ministro teria superado o teto de gastos da disputa ao Senado, o que teria facilitado sua vitória nas urnas. O candidato do PL no estado, Paulo Martins, foi o segundo colocado na disputa, com 1,7 milhões de votos — 200 mil a menos que Moro.

A denúncia de caixa dois se encaixaria neste cenário. Há o cálculo de que Sérgio Moro tenha gasto R$ 6,7 milhões entre a pré-campanha à Presidência e a campanha ao Senado. O limite permitido por lei seria de R$ 4, 4 milhões.

"O conjunto das ações foi orquestrado de forma a, dentre outras irregularidades, usufruir de estrutura e exposição de pré-campanha presidencial para, num segundo momento, migrar para uma disputa de menor visibilidade e teto de gastos vinte vezes menor, carregando consigo todas as vantagens e benefícios acumulados indevidamente", diz outro trecho do processo.

Sérgio Moro também é acusado de exigir a contratação de empresas de amigos por parte dos partidos e fundações partidárias. A defesa ainda não se manifestou judicialmente na ação que foi protocolada no dia 23 de novembro, mas estava em segredo de justiça até o último dia 17.

Procurado, o ex-juiz negou as acusações e classificou o processo como reflexo do "desespero dos perdedores". O PL não respondeu até a data desta publicação.

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-juiz Sergio Moro em debate nas eleições do ano passado — Foto: Nélson Almeida/AFP

Confira o posicionamento de Sérgio Moro na íntegra:

Eu e meus suplentes ainda aguardamos ser notificados pela Justiça Eleitoral. Daquilo que vi pela imprensa, porém, percebo tratar-se de uma ação feita em parceria pelo PL/PR e Podemos, ou seja, entre o segundo e terceiro colocados derrotados, atendendo aos interesses de uma nova eleição e do PT. Puro desespero dos perdedores e de quem teme nosso mandato.

Vejo que o PL/PR emprestou seu nome e o Podemos entrou com os seus advogados e com documentos internos vazados ilegalmente.

Renata Abreu, Fernando Giacobo, Álvaro Dias e Paulo Martins são os responsáveis!

Todavia, nada temo. Sei da lisura das minhas ações, suplentes e fornecedores. Não houve aplicação ilegal de recursos, tampouco caixa2, triangulação ou gastos além do limite, como sugerem provar apenas com matérias de blogs e notícias plantadas. A ilustrar o absurdo da ação encontra-se a afirmação fantasiosa de que a pré-candidatura presidencial teria beneficiado minha candidatura ao senado quando foi exatamente o oposto, tendo o abandono da corrida presidencial gerado não só considerável e óbvio desgaste político, mas também impacto emocional.

Tentam nos medir com a régua deles. Mas nossa retidão moral é inabalável e inquestionável, como será novamente demonstrado.

Ao final serão processados, eles sim, pelas falsidades levantadas.