O g1 acompanhou famílias à noite, quando as carretas são liberadas na via da capital paulista. Barulho chegou a 100 decibéis, e o limite da cidade é de 50 decibéis entre 22h e 7h.
Por Carlos Henrique Dias, g1 SP
Via fica tem tráfego intenso de veículos e fica sob rota de aviões, em uma combinação de fatores que provoca ruída extremo e insalubre.
Exposição 24 horas por dia a essa situação pode trazer consequências irreversíveis para a audição.
Reportagem traz a história do garoto Davi, que é fã da novela das 7 e viu o pai improvisar caixas de som para que possa acompanhar a trama no volume máximo.
Leia também sobre a cantora Kah Black, que vive com os 5 filhos na região.

Crianças que vivem sob viadutos em São Paulo improvisam para dormir com barulho
A novela das 7, da TV Globo, é a favorita de Davi, de 6 anos, vizinho da barulhenta Avenida dos Bandeirantes, na Zona Sul de São Paulo. O pai do menino, Edimilson do Nascimento, de 57 anos, improvisou três potentes caixas de som para o filho conseguir escutar os capítulos no volume máximo nas horas de pico.
A trama é exibida no período de maior movimento de veículos na via, uma das principais artérias paulistanas, que tem 6,2 quilômetros e conecta a cidade a rodovias que levam ao litoral de SP. Na hora mais carregada à tarde, circulam por ali até 5.893 veículos, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Pai e filho moram embaixo do Viaduto João Julião da Costa Aguiar, um dos cinco que passam sobre a Bandeirantes, e dormem a cerca de 15 metros da via que tem carretas liberadas a partir das 21h, de segunda-feira a sexta-feira.
“Coloco no último volume a TV, ligo [o aparelho de] som, e dá para ouvir. Fica igual cinema”, brinca Edimilson.
Edimilson vive na Bandeirantes desde 2002. Tem mais filhos, mas só Davi atualmente mora com ele. Com três óculos pendurados — no meio da cabeça, no pescoço e nos olhos —, ele disse ser um “faz tudo” na área: conserta celulares, aparelhos eletrônicos e bicicletas.
O g1 ficou por cerca de 3 horas acompanhando Edmilson e Davi com um decibelímetro, aparelho que mede a intensidade sonora do ambiente. Houve momentos em que só foi possível entendê-los com leitura labial.
Os picos registrados chegaram a 92 decibéis, onde Davi mora, com as buzinas e freadas sob a rota de aviões do Aeroporto de Congonhas.
O limite de decibéis na cidade de São Paulo já foi parar na Justiça e chegou a ser debatido na Câmara Municipal em relação a grandes eventos, mas atualmente não há uma regra específica. Segundo a prefeitura, a média na cidade é de 60 decibéis das 7h às 19h. Das 19h às 22h, a altura média permitida é de 55 decibéis. Das 22h às 7h, o limite estabelecido é de 50 decibéis.
A constante exposição ao ruído extremo pode trazer consequências irreversíveis com o tempo para a audição, explicou Arthur Menino Castilho, especialista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e presidente da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO).
De imediato, o prejuízo para a saúde pode ser o mental. As noites maldormidas, os sustos com buzinadas e os sons dos motores podem desencadear ansiedade, estresse, cansaço entre outras situações, pontuou o especialista.
Um comerciante que mora e tem uma oficina que reforma imóveis na área do viaduto da Avenida Santo Amaro contou que para fugir do barulho mesmo dentro de casa à noite usa fones de ouvidos: "Coloca no tablet algum vídeo ou joga vídeo game. Aí não dá para ouvir nada".
Abaixo, você vai ser sobre (clique em cada tema para ir diretamente a ele):
0 Comentários