Empreendedorismo e moda: mercado de brechós tem crescimento acentuado em Manaus

Empreendedorismo e moda: mercado de brechós tem crescimento acentuado em Manaus


Uma breve busca pela hashtag “brechó Manaus” no Instagram, por exemplo, gera cerca de 136 mil resultados

Amariles Gama

Mercado de brechós registra crescimento entre manauaras (Foto: Jeiza Russo / A Crítica)

Mercado de brechós registra crescimento entre manauaras (Foto: Jeiza Russo / A Crítica)

Com a oferta de preço menor e peças usadas de qualidade, os brechós têm ganhado cada vez mais espaço no guarda-roupa dos manauaras, e a procura por lojas desse segmento tem aumentado. Uma breve busca pela hashtag “brechó Manaus” no Instagram, por exemplo, gera cerca de 136 mil resultados, em que a maioria deles são anúncios para compra de peças e acessórios de segunda mão. 

A designer de moda Ana Luísa Aucar, de 33 anos, conta que sempre foi apaixonada por tudo que envolve esse nicho. Em 2018, ela e uma amiga resolveram criar o brechó e outlet multimarcas ‘Do meu para o seu’ [@ domeuparaoseu_am ], com intuito de vender algumas peças delas mesmas pouco usadas ou novas por um preço acessível. 

“Conseguimos vender quase todas as nossas peças, ela [a amiga] seguiu com a sua profissão e fiquei sozinha com o brechó. Comecei a divulgar a página para amigas, que começaram a comprar e querer vender também suas peças, e com a visibilidade que vinha sendo adquirida no brechó outras clientes foram entrando em contato querendo desapegar, tudo muito espontâneo”, relata.  

Jhessienne Souza intensificou trabalho com brechó a partir da pandemia (Foto: Jeiza Russo / A Crítica)

Ana Luísa então resolveu estudar gestão de brechós e optou por trabalhar em consignação, apostando na comercialização de peças originais. “Consignação é quando o fornecedor deixa suas peças com o brechó e recebe sua porcentagem ou valor acordado após ser vendida. Tudo formalizado em contrato”, explicou ela, que destaca ainda que o seu maior desejo era mudar o conceito ultrapassado de que “tudo o que vinha de brechó era velho ou com avaria”.   

“Consegui mostrar através da minha página que é possível adquirir peças por um preço mais acessível do que no varejo, sem abrir mão da qualidade e com peças atuais, proporcionando uma experiência única de dar ressignificação aquelas peças não utilizadas, a fim de torná-las úteis e acessíveis a todos, fazendo assim parte da moda circular”, disse.  

A demanda por peças de segunda mão abre espaço para todos os empreendedores que desejam apostar no segmento, sendo a internet uma grande aliada para eles. É o caso da estudante de Farmácia, Jhessienne Souza, de 25 anos, que durante a pandemia e suspensão das atividades presenciais decidiu centralizar no Instagram as suas vendas. 

Ela relata que passou de consumidora apaixonada por brechós para empreendedora do ramo. Há mais de 3 anos, Jhessienne resolveu criar o ‘Brechó da Enne’ [@brechodaenne], onde ela comercializa as peças de forma online. “Minha única renda atual é o Brechó, que vai muito bem, inclusive”, destaca. 

Ana Luísa iniciou sua vida no mercado de brechós em 2018 (Foto: Paulo Bindá / A Crítica)

Jhessienne afirma que metade do seu dia é dedicado ao trabalho com o brechó. “Eu compro em brechós espalhados pela cidade, vou pessoalmente procurar, lavo, faço reparos, deixo em condições novas e revendo”, disse, ao destacar que sempre consumiu e amou brechó, e desde a adolescência vendia peças usadas. 

No segmento há ainda pessoas que resolveram unir forças e criar um coletivo de brechós. A porta-voz do coletivo ‘Reuse 92 – Moda sustentável’[@reuse92], a empreendedora Erikarla Sarmento, de 33 anos, explica que o grupo surgiu devido à falta de eventos para divulgação de brechós na cidade.  

O coletivo de brechós se reúne trimestralmente e realiza eventos para vender suas peças. O projeto é formado por três brechós: um desapego, uma curadoria de moda praia/íntima vintage e uma ‘miçangueira’. “Nós queríamos realizar as vendas e mostrar que mulheres reunidas podem fazer a diferença”, disse. 

“O coletivo consiste em quatro mulheres empreendedoras e um rapaz empreendedor. São três brechós, uma digital influencer negra e bissexual, e uma moça que produz peças a partir de miçangas e pedras naturais, que é a Cecíli. Ela possui uma kombi muito legal, e a gente se reúne bimestralmente ou trimestralmente pra vender nossos produtos”, detalhou.  

Coletivo de brechós se reúne trimestralmente e realiza eventos para vender suas peças (Foto: Arquivo Pessoal)

Erikarla, que trabalha no ramo de brechós, assim como os demais participantes do coletivo, afirma que o grupo veio para “somar propósitos”. “A mudança que teve foi a soma de propósitos, pessoas que tem o mesmo propósito em fazer o diferente e mudar o entorno através do seu negócio”, disse.  

Para a economista Denise Kassama, o brechó é uma alternativa mais viável, sendo uma opção de compra de roupas e outros utensílios barato e acessível. Para ela, a procura por lojas do segmento tem aumentado devido a mudança de hábitos e prioridades de consumidores, em um país que a população, de uma forma geral, está com a renda reduzida 

“O Brasil passou por uma situação muito complicada, ainda temos um índice de pobreza e extrema pobreza muito grande, e a população de uma forma geral está com a renda reduzida. Então, acaba sendo uma alternativa de preço mais barato que o mercado usual. Mas, o fato é que em um momento em que a renda está reduzida e as opções do brasileiro estão entre comprar comida e o resto, e ele busca comprar comida, o brechó é uma alternativa mais viável”, avaliou a economista.

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