Antes refúgio à beira-mar, bairro do Recreio, no Rio, convive com 'narcomilícia' e vê alta de 218% na letalidade violenta

Antes refúgio à beira-mar, bairro do Recreio, no Rio, convive com 'narcomilícia' e vê alta de 218% na letalidade violenta


Região que atraiu quem buscava tranquilidade nos anos 1990 vê índices de violência crescerem. Milicianos já atuam além da comunidade do Terreirão.

Por Anita Prado, Cássio Inácio, Felipe Freire, Gabriela Moreira, Leslie Leitão, RJ2

Ação da milícia e do tráfico tira o sossego no Recreio

Ação da milícia e do tráfico tira o sossego no Recreio

A ação da milícia e do tráfico mudou a rotina do Recreio dos Bandeirantes. Um dos bairros litorâneos da Zona Oeste do Rio de Janeiro se tornou destino para muita gente que buscava sossego nos anos 1990, mas hoje vê índices de violência dispararem.

A letalidade violenta (homicídio doloso, lesão seguida de morte, latrocínio e morte pela polícia) no bairro, por exemplo, teve 218% de alta de 2022 para 2023, segundo registros da 42ª DP (Recreio).

Investigações apontam que na região da comunidade do Terreirão já existe a chamada narcomilícia. Milicianos e traficantes dividem território: a milicia de Zinho atua durante o dia, e os traficantes do Comando Vermelho, à noite.

Zinho é tio de Matheus Resende, o Faustão, morto em operação policial. Em represália à morte dele, ataques de milicianos destruíram 35 ônibus na Zona Oeste do Rio.

Bairro bucólico vê mudanças

Recreio dos Bandeirantes tem prédios baixos à beira-mar — Foto: Reprodução/TV Globo

A praia, o aspecto bucólico e uma orla com prédios baixos, como em cidades litorâneas fora da capital fluminense, levaram o Recreio a se tornar uma opção para moradores que viam na Zona Oeste um lugar tranquilo para viver com a família, nos anos 1990.

A realidade é muito distante da vivenciada hoje. Moradores do bairro vivem num clima de insegurança, e muitos já pensam em deixar os imóveis.

O cenário de terror desta segunda-feira (23) na Zona Oeste, quando passageiros foram retirados de coletivos que foram parados por milicanos e incendiados, não deixa dúvidas: a milícia é realidade no novo cenário do Recreio.

Na Avenida Benvindo de Morais, passageiros em desespero fugiram do BRT, que era incendiado. Outro ônibus foi queimado ao lado da estação Notre Dame.

Esses são sinais da proximidade de milicianos, que incendiaram transportes por oito bairros da Zona Oeste.

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Passageiros correm, em desespero, para escapar de incêndio em ônibus — Foto: Reprodução

Terreirão

Não é novidade para as autoridades de segurança do Rio que a milícia está no Recreio, instalada na favela do Terreirão em meados da década de 90.

Agora, os criminosos não se contentam com a exploração da comunidade. Segundo a polícia, eles já cobram taxas ilegais de segurança de condomínios e de comerciantes de diversas ruas no entorno do Terreirão.

Denúncias contra milícia e alta de violência

Um ranking feito pelo Disque Denúncia mostra que o Recreio aparece entre os 20 bairros com maior número de denúncias de atividade de milícia desde 2020 - acima de localidades como Rio das Pedras e o bairro de Sepetiba, que historicamente são dominadas pelos criminosos.

As estatísticas de violência da delegacia do bairro comprovam a violência.

De janeiro a setembro deste ano, houve:

  • casos de roubo em rua: 504, com alta de 38% a mais que no mesmo período de 2022;
  • assaltos a pedestres333 casos, crescimento de 62%;
  • roubos de veículos106, com alta de 14%;
  • letalidade violenta (homicídio doloso, lesão seguida de morte, latrocínio e morte pela polícia): 51 casos, 218% a mais;
  • assassinatos: 41, com aumento de 156%.

A região tem passado por tiroteios frequentes, como aconteceu no início de setembro, quando duas mulheres foram baleadas no Terreirão.

"Nossa segurança aqui há 8 anos era boa, a gente saía na rua, a gente saía de noite, a gente ia pra shopping, voltava de ônibus do shopping, pra casa e não tinha preocupação. Hoje eu procuro não estar na rua ao anoitecer. Eu e todos os moradores", diz uma moradora.

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