Serviço de água encanada muda realidade de indígenas em bairro de Manaus

Serviço de água encanada muda realidade de indígenas em bairro de Manaus


Familia Santos mora há mais de 10 anos na comunidade indígena em Manaus — Foto: Débora Martins/ Rede Amazônica
1 de 2 Familia Santos mora há mais de 10 anos na comunidade indígena em Manaus — Foto: Débora Martins/ Rede Amazônica

Familia Santos mora há mais de 10 anos na comunidade indígena em Manaus — Foto: Débora Martins/ Rede Amazônica

O serviço de água encanada está na lista das principais necessidades básicas de uma comunidade, bem como o acesso à água tratada, a coleta e ao tratamento de esgoto.

Por mais de trinta anos, essa não era a realidade de cerca de vinte famílias que residem na Comunidade Associação Waikiru, pelo menos no que se refere ao fornecimento de água.

Fundada em 1970 por indígenas da etnia Saterá-Mawé, os indígenas motivados pela busca de assistência médica, hoje estão estabelecidos em becos e vielas que cortam parte do bairro Da Paz e Redenção, na zona Centro-Oeste da capital.

De lá para cá, muitos desafios foram enfrentados, entre eles a busca incessante por água, literalmente.

"Sempre foi um problema, a gente não tinha água encanada. Por anos usamos uma bica, uma cacimba feita pelos próprios moradores, onde a gente usava a água para tomar banho. Para beber, era preciso caminhar uns 3 quilômetros, quase todos os dias, para buscar água", lembra um dos líderes e morador da Comunidade Waikiru, Érico dos Santos.

A antiga realidade também é viva nas memórias de Anita Ferreira Lima, 39 anos. A dona de casa lembra do dia em que ela e outras moradoras tiveram uma reação alérgica por causa da falta de água tratada.

"Sem ter água em casa, foi preciso improvisar, não era o que a gente queria, mas foi necessário. Lembro do dia em que a água não subiu para comunidade por três dias, pela encanação improvisada, e a gente agoniadas para tomar banho, fomos na cacimba, e quando a gente olhou, a água do poço estava só barro, mas mesmo assim usamos, porque precisávamos tomar banho; horas depois, o nosso corpo se encheu de coceira, foi preciso sair e pedir água em outra casa para gente tomar banho, a gente tinha vergonha de ficar pedindo, mas foram legais com a gente e nos deram água, nunca esqueci disso. ", conta Anita.

Dona de casa Anita Ferreira Lima, em sua residência na comunidade Waikiru, em Manaus — Foto: Débora Martins/ Rede Amazônica

Saúde

Segundo Ministério da Saúde, a água de boa qualidade para o consumo humano e seu fornecimento contínuo asseguram a redução e controle de doenças como:

  • Diarreias
  • Cólera
  • Dengue
  • Febre amarela
  • Tracoma
  • Hepatites
  • Conjuntivites
  • Poliomielite
  • Escabioses
  • Leptospirose
  • Febre tifóide
  • Esquistossomose
  • Malária

Para o infectologista Nelson Barbosa, o sanamento básico aliado ao acesso a água tratada, pode evitar a frequência de doenças ligadas a veiculação hidrica.

"A água contaminada ela pode produzir diversas doenças desde as parasitoses intestinais como as infecções intestinas, além de desidratação em crianças e adultos", ressaltou Nelson.

Outra realidade

Em 2020, o mapeado dos locais onde não havia o serviço de água regular realizado pela empresa responsável pelo abastecimento em Manaus, chegou na Comunidade Waikiru.

"Desde que chegou em Manaus, em 2018, a concessionária fez um trabalho de relacionamento para chegar nas regiões de vulnerabilidade social e garantir que estas áreas contassem com os serviços de água e esgoto. Diante disto, foi realizado um mapeamento dos locais onde não havia o serviço regular de abastecimento de água e, com a ajuda de lideranças comunitárias, levamos saneamento para todas as áreas regularizadas, como em comunidades distantes da área central e de difícil acesso", explica a Águas de Manaus.

A concessionária detalhou ainda que foi preciso adaptar a execução dos serviços à geografia peculiar da cidade, com estruturas de rede de abastecimento de água tratada e coleta de esgoto em áreas de palafitas e becos.

Além da comunidade Waikiru, moradores do Parque das Tribos, considerada a maior comunidade indígena urbana da capital, localizada no bairro Tarumã, zona Oeste, residentes do Parque das Nações Indígenas, que abriga cerca de 13 etnias, também na zona oeste da cidade, a Aldeia Canumã, da etnia Mura, Saterá-Mawé e Kambeba, e a Aldeia São João Batista, da etnia Tupinambá, ambas localizadas no bairro Jorge Texeira, zona Leste de Manaus, também passaram a ter o serviço de água regular.

Ao todo, 5 mil pessoas foram beneficiadas com água encanada.

Tarifa Social

As famílias que vivem em áreas de vulnerabilidade social são cadastradas na Tarifa Manauara, que concede 50% de desconto no valor da fatura.

"Melhorou demais, agora a gente tem água no chuveiro, na torneira da pia da nossa casa, e sem contar o comprovante de residência no nosso nome, que também era uma necessidade", conta Anita.

Instalações de redes de esgoto

Depois da água encanada, a comunidade Waikiru aguarda agora a instalação de uma rede de esgotamento, que irá coletar todo o esgoto produzido nas residências.

Atualmente, a rede de esgosto na capital atende 26% da população, a meta, segundo a Águas de Manaus, é fechar o ano de 2023 em 30%.

"A Águas de Manaus irá detalhar, ainda neste ano, o plano de expansão do serviço de esgotamento sanitário, que vai garantir a universalização do serviço de esgoto na cidade. Estão previstas uma série de obras, como implantação e ampliação de ETEs e redes coletoras em todas as zonas da cidade", destacou a concessionária.

O bairro Redenção está dentro do cronograma de obras do plano de expansão do serviço. A previsão é que a estrutura comece a chegar na região no próximo ano.

Com isto, nos próximos cinco anos, os moradores serão beneficiados com melhoria na qualidade de vida, saúde e na recuperação dos recursos hídricos.

Ainda segundo a Águas de Manaus, em 2025, a cobertura na cidade deve chegar a 45%, e, em 2033, à universalização do sistema, com 90% de cobertura.

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