Depois de pagarem pequenas quantias por curtidas e avaliações na internet, criminosos começam a cobrar para liberar mais atividades e 'somem' com o valor.
Por Júlia Nunes, g1
No "golpe da renda extra", criminosos oferecem dinheiro para quem realizar pequenas tarefas pelo celular, como curtir vídeos na internet ou avaliar estabelecimentos no Google.
Alguns usuários até recebem o "salário" após as primeiras tarefas, mas logo os golpistas começam a cobrar pelas atividades e somem com o dinheiro.
Especialista alerta que "é muito difícil recuperar o dinheiro" e que, dependendo do valor perdido no golpe, não compensa contratar um advogado para mover um processo na Justiça.
Um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados quer aumentar a pena para "estelionato digital".
'Golpe da renda extra' paga usuários para avaliar locais no Google — Foto: Júlia Nunes/g1
Ser pago para curtir vídeos e avaliar estabelecimentos na internet: parece bom demais para ser verdade. E é. O chamado “golpe da renda extra” tem feito vítimas por todo o país 💸💸.
COMO FUNCIONA? - Criminosos entram em contato com as vítimas por meio de aplicativos de mensagens com uma proposta tentadora: ganhar uma (boa) renda extra realizando pequenas tarefas pelo celular.
“Nossa empresa está contratando pessoas para avaliar alguns restaurantes no Brasil e receber R$ 18 por avaliação, trabalhando em casa. A renda diária varia de R$ 1,2 mil a R$ 2,5 mil”, diz uma das mensagens às que a reportagem teve acesso.
A oferta interessou o auxiliar de escritório Marcos Carvalho, de Natal (RN), que estava precisando de dinheiro para pagar algumas dívidas. Ele aceitou a proposta e, no começo, realmente obteve o retorno prometido.
“Realizei duas tarefas e me enviaram um PIX de R$ 10. Pediram para eu aguardar que, no outro dia, mais tarefas seriam liberadas, mas pelo Telegram. Aí comecei a realizar as tarefas, por blocos. Cada bloco eram duas tarefas, e eu recebia valores entre R$ 10 e R$ 16”, relata.
Foi aí que começou a “pegadinha”. Segundo Marcos, os golpistas passaram a cobrar a realização de tarefas pré-pagas e prometiam uma valorização do dinheiro investido por meio de uma plataforma de bitcoins.
As bitcoins são um modelo de criptomoedas. São ativos como real, dólar e euro, mas que circulam apenas em ambiente digital.
“Fiz depósitos entre R$ 100 e R$ 1.250. Mas, depois, eles pediram para realizar um novo, no valor de R$ 2,8 mil e, se eu não realizasse, teria todo o meu lucro perdido", relata a vítima.
Marcos conta que, como não tinha como fazer mais depósitos, pediu a devolução dos que já tinha realizado e acabou bloqueado no Telegram e WhatsApp dos supostos contratantes. O prejuízo foi de R$ 1.728, segundo ele.
A vítima registrou um boletim de ocorrência na delegacia virtual e acionou o banco, mas não conseguiu reaver o dinheiro. “Fui informado que o valor já tinha sido transferido para outra conta”, diz.
➡️ Para casos de golpe envolvendo PIX, o Banco Central conta com uma ferramenta chamada Mecanismo Especial de Devolução (MED). Por meio dele, o banco inicia um procedimento para analisar a fraude e, se possível, devolver o valor.
No entanto, o banco precisa ser comunicado sobre o golpe o mais rápido possível para que ele consiga bloquear o valor da conta do fraudador antes que ele saque o dinheiro ou o transfira para outro lugar (leia mais aqui).
Marcos foi vítima do golpe da renda extra em Natal (RN) — Foto: Reprodução
Outra vítima do golpe da renda extra foi a professora de alemão Annabelle Leblanc, de Campo Grande (MS). Ela conta que, por ser autônoma e fazer vários trabalhos freelancer na internet, não desconfiou da proposta, e nem do número de telefone estrangeiro.
“Desde agosto de 2020, quando comecei a dar aulas online, pelo menos dois dos meus alunos sempre são brasileiros morando no exterior, então é bem natural para mim DDDs ‘esquisitos’”, afirma.
Anne, então, começou a fazer as tarefas, inclusive as pré-pagas, e receber alguns valores. Ela só percebeu o golpe quando os criminosos alteraram a forma de pagamento, com bitcoins, e ela cometeu um erro na hora de comprar as moedas na plataforma.
“Eles falaram que, pela minha inexperiência, dava para alterar, mas por um valor absurdo de R$ 15 mil, ou R$ 5 mil e inúmeras tarefas, aí que eu entendi que era estelionato."
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