Roraima bate recorde de focos de calor em 2024 em meio à liberação de queimadas

Roraima bate recorde de focos de calor em 2024 em meio à liberação de queimadas


Em meio ao período de estiagem, o Greenpeace Brasil alertou que o governo de Roraima liberou 55 licenças ambientais para queimadas, sendo responsável pelo aumento de focos, segundo a organização.

O g1 procurou o governo do estado sobre o assunto e aguarda retorno.

Ranking de focos de calor

De 01/02 até esta quinta-feira (22/02)

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Fonte: Programa Queimadas - Inpe

Ciclo de queimadas

O ciclo de queimadas foi suspenso pelo governo nessa quarta-feira (21) por tempo indeterminado. No dia 16 de fevereiro, o calendário elaborado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente e Meios Hídricos (Femarh) havia sido prorrogado para até 9 de março em 12 municípios.

O Greenpeace Brasil teve acesso aos dados de licenças para queimadas em Roraima publicadas no Diário Oficial e constatou que no dia 9 de fevereiro foram publicadas 55 licenças para uso de fogo, sendo a maioria em área de pastagem. Dessas apenas duas foram revogadas, segundo informações do documento verificadas até o dia 22.

Por conta disso, incêndios e queimadas tendem a se espalhar com facilidade. Para Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, o governo estadual de Roraima é um dos responsáveis por esse aumento dos focos de calor na região.

Incêndio atinge Amajari, Norte de Roraima — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

“Na atual crise climática que vivemos, cujo a maior contribuição do Brasil vem justamente do uso do fogo, não é possível que continuemos usando em grandes propriedades a técnica mais arcaica para manejo do solo. Esta atividade deveria ser restrita ao uso tradicional dos povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares", disse.

Queimadas atingem o município de Amajari — Foto: Oséias Martins/Rede Amazônica

'Dimensão que não dá para se comparar'

Em Amajari, onde as chamas têm se espalhado, agricultores relatam prejuízos. Na propriedade de Francisco da Cruz, conhecido como Chico da Cruz, de 56 anos, um bezerro recém-nascido morreu e outro ficou ferido devido aos incêndios na região.

"A gente não dorme nem de noite e nem de dia tentando combater esse fogo. Então, é uma coisa incontrolável esse fogo, é uma medida desproporcional que não tem como o ser humano chegar nem na frente para combater o fogo. O que tem na frente ele vai levando, é casa, é animais, vai prejudicando tudo e a gente está nessa situação", contou.

Francisco Oliveira perdeu parte do pasto — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Outro produtor afetado pelo problema é Francisco Marcos de Oliveira, de 77 anos. Há mais de 30 anos morando no PA Amajari, ele relembra que não é a primeira vez que o município é atingido por grandes incêndios, mas que teme os próximos dias devido ao período seco.

"Muito fogo, muita fumaça, parece que vai se acabar tudo. E de noite para dormir? Com olhos cheios de fumaça? Chega arde na gente, mas vamos levar até o final", disse.

Sinésio Lima é um dos voluntários no combate aos incêndios — Foto: Samantha Rufino/g1 RR

Na região, brigadistas voluntários atuam para minimizar o problema. "Mesmo tendo a brigada do Prevfogo, a questão é: fogo para todo lado", resumiu Chaguinhas Soares, coordenadora local da Defesa Civil no Amajari, sobre o cenário.

Entre os voluntários está o caseiro Sinésio Lima, de 43 anos, que mora próximo ao local dos incêndios. Com uma bolsa de água, chapéu e outros equipamentos nas costas, ele auxilia os brigadistas.

"É um ajudando o outro, os vizinhos, fazendo aceiro. Mandaram chamar o corpo de Bombeiros e estão com oito dias que estão aqui, ainda bem que vieram [...] Se fosse só nós, não dava conta não", explicou.

Licenças para uso de fogo mapeadas pelo Greenpeace — Foto: Greenpeace/Reprodução

Município com focos de calor

Segundo o Programa Queimadas do Inpe, o município mais atingido em fevereiro é Mucajaí, com 365 focos de calor, seguido de Caracaraí (220) e Amajari (213). Além disso, municípios de Roraima ocupam 14 das 15 primeiras posições nos focos de calor catalogados entre janeiro e fevereiro deste ano.

Também é no estado que estão situadas 7 das 10 terras indígenas que mais registraram focos de calor neste período, com destaques para Terra Indígena Yanomami (230), Raposa Serra do Sol (91) e Terra Indígena São Marcos (21), de acordo com o Instituto.

“Ao contrário de outras regiões do bioma, que tem um intenso período de chuvas entre dezembro e maio, Roraima está no período de seca, justamente por ser o estado localizado mais ao norte do país [...] É inaceitável que o governo estadual tenha concedido licenças para queimadas nessa situação, elevando os focos de calor na região, colocando em risco o meio ambiente e a saúde da população”, explicou o porta-voz do Greenpeace.

Os focos de calor são zonas que há ressecamento e elevação de temperatura, que podem ocasionar incêndios.

Impacto no nível de rio

O período seco também tem afetado o nível do Rio Branco, responsável pelo abastecimento de água na capital.

Atualmente, o nível do rio está em 0,06 centímetros - média considerada baixa. Em 2016, quando o estado enfrentou uma das piores secas da história, o volume de água ficou em -- 59 centímetros

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