Segundo o Google Trends, pesquisas com o termo "repelente caseiro para dengue", por exemplo, tiveram um aumento repentino de 600% no ano. Já a "armadilha para mosquito da dengue" cresceu 200%.
Vídeos com milhões de visualizações nas redes sociais indicam soluções mágicas contra o Aedes aegypti. Especialistas ponderam, porém, que essas dicas alternativas mais atrapalham do que ajudam a proteger.
Repelente caseiro
Em um post no TikTok, um influencer compartilha a receita de um repelente caseiro feito com limão, cravo e vela para agir sobre o ambiente. É #FAKE!
O efeito real dos repelentes se dão apenas na pele humana. A substância altera o cheiro do corpo, o que confunde o mosquito e não deixa que eles se aproximem. A chefe do laboratório de Biologia Molecular de Insetos da Fiocruz, Rafaela Vieira Bruno, alerta para o uso apenas de produtos com eficácia comprovada aprovados pela Anvisa.
"Ele não funciona, não vai servir para espantar os mosquitos. Os repelentes são usados nas pessoas porque o principal objetivo deles é impedir que o mosquito perceba o nosso cheiro. O certo a ser feito, na verdade, é você usar os repelentes que são já preconizados pela Anvisa. E a gente tem três tipos: aqueles à base de Icaridina, de DET e à base de R3535".
'Suco milagroso'
Circula nas redes sociais ainda um "suco milagroso" à base inhame, maçã, laranja e limão, que promete curar a dengue e aumentar as plaquetas do sangue. É #FAKE!
É desconhecido ainda pela ciência qualquer dieta que ajude especificamente no tratamento de arboviroses, como a dengue. O infectologista e professor da UFRJ Rafael Galliez explica que é esperado ao longo da evolução da infecção que o corpo consiga recuperar a produção normal de plaquetas.
"Nem tão pouco a laranja, o limão, a vitamina C, as vitaminas do complexo B ou o consumo de alimentos como o inhame, de qualquer forma, têm um impacto na história natural do vírus".
Borra de café
Outra armadilha para o mosquito compartilhada nas redes sociais é queimar borra de café, como um fumacê natural na casa. É #FAKE!
Aqui a bióloga Rafaela Vieira Bruno, explica que o pó do café não tem nenhum padrão químico que sirva efetivamente para afastar o Aedes aegypti.
"O cheiro da borra de café não vai ser suficiente para afastar o mosquito, nem para fazer com que ele deixe de te perceber. Quanto tem de substância química que, de fato, poderia ter algum efeito? O ideal para impedir a entrada do mosquito dentro de casa é colocar uma tela, né? Mosquiteiro nos berços".
Jardim que afasta pernilongo
Em outro vídeo, um engenheiro ambiental promete a montagem de um jardim que mantém o pernilongo longe. #NÃOÉBEMASSIM!
O infectologista Rafael Galliez esclarece que os aromas das plantas não têm comprovação científica de ação eficaz e prolongada de proteção contra o mosquito, e, por isso, não são capazes de substituir os repelentes farmacológicos.
"Esses produtos, ditos naturais, não conseguem ter uma ação eficaz e prolongada para uma real proteção. Então, infelizmente, eles não são capazes de substituir os repelentes farmacológicos".
Outras dicas #FAKE
Os especialistas destacam ainda que as famosas dicas de sal na água do pratinho de planta ou chá de folha de mamão para aumentar plaquetas do sangue não são medidas efetivas contra a dengue.
Galliez alerta para o principal risco dessas "medidas alternativas": ao acharem que estão se protegendo, as pessoas, na verdade, se colocam mais vulneráveis ao efeito grave do vírus, justamente, por não cumprirem nenhuma medida científica contra a doença.
"O grande problema dessa situação, além disso: "nunca vou pegar", "não vou cuidar da minha localidade, do meu entorno para reduzir a quantidade de reservatórios" é a questão, inclusive, do atraso de procurar cuidado no caso de estar doente. Com uma confiança de que uma determinada intervenção na dieta, no consumo de um chá vai evitar que tenha a forma mais grave, e a pessoa não procurar cuidado quando necessário".
Recomendações do Ministério da Saúde
A página do Ministério da Saúde dedicada a informações sobre a dengue destaca a importância do controle do vetor da doença, o mosquito Aedes Aegypti, e afirma que não existe tratamento específico para a doença.
Enquanto não existe ainda uma receita mágica para lidar com o vírus da dengue, as recomendações científicas seguem as mesmas: usar repelentes aprovados pela Anvisa e tela de mosquiteiro, além de adotar medidas preventivas como manter a caixa d’água bem fechada e esvaziar vasos de planta, calhas e outros recipientes que possam acumular água parada.
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