PLP afeta produção de condicionadores de ar na Zona Franca de Manaus

PLP afeta produção de condicionadores de ar na Zona Franca de Manaus


Hoje atrás apenas da China em produção mundial de ar-condicionados, a Zona Franca de Manaus (ZFM) pode ver esse mercado ascendente despencar nas próximas décadas, caso o texto de regulamentação da reforma (PLP 68/2024) mantenha dispositivos que reduzem a competitividade dessa produção. 

O eletrodoméstico não é o único prejudicado. Especialistas citam televisões, motos e aparelhos de áudio, dentre outros. Há, porém, uma expectativa de que a ameaça seja eliminada no Senado, onde o relator da proposta é o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que se comprometeu a atuar pelas alterações.

Na visão de analistas, os riscos à redução da competitividade da ZFM podem ser observados não por setores (como Duas Rodas, Concentrados ou Plástico), mas por produtos - e até aqui com ressalvas. Isso porque tudo vai depender de como cada item será tributado e qual crédito presumido (um benefício compensatório) terá. O PLP 68/2024 está, atualmente, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

 Superprodução

 O problema pode ser simplificado no caso do ar-condicionado, que disparou na última década e saiu de uma produção média de um milhão de aparelhos para cerca de 5 milhões por ano, em Manaus. No modelo tributário atual, o crédito presumido de ICMS (imposto estadual) é de 100% para essa produção. Pela reforma, o crédito sobre o IBS (novo imposto) será de dois terços de 55%. Ou seja, quem não pagava nada, agora terá de pagar.

“Não só ar-condicionados, mas lavadora de louças e produtos de áudio, as caixas conectadas. A preocupação é que hoje a produção de ar-condicionado que atende o Brasil é feita 100% em Manaus. Quando temos um redesenho desse ambiente de negócios, o risco é termos uma fuga de investimentos para outros locais. Os principais concorrentes não são os estados brasileiros, mas México, Índia e Vietnã. Eles é que concorrem com a Zona Franca”, pontua o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Júnior.

Dados divulgados pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) apontam que a produção de condicionadores de ar cresceu 170,64% no primeiro semestre deste ano, sendo o produto de maior destaque do período. Foram fabricadas 176.190 unidades do tipo janela ou de parede. Os splits também tiveram aumento de 70,81% no período, com 2,6 milhões de unidades produzidas em seis meses.

“Em 2001, nós produzimos um ar-condicionado em Manaus. Em 2011, quando o senador Omar Aziz era governador do Amazonas, ele e a presidente Dilma construíram um ambiente de negócios na Zona Franca para alavancar a produção no Brasil. Eles fizeram um colchão de elevação do imposto de importação e do IPI para o produto importado, protegendo a produção nacional. Com isso, saímos de cinco fábricas em 2011 para 17 atualmente”, afirma Jorge Júnior.

 Crédito presumido

 Ele explica que o único setor que manteve os incentivos atuais no crédito presumido é o de bens de informática, mas ainda assim, com ressalvas. Isso porque, esses produtos continuarão com um crédito de 100%, porém, poderão usar apenas dois terços desse percentual. “A Câmara disse: você tem esse crédito presumido com esse percentual e eu ainda vou abater um terço dele”, diz o representante do setor.

Segundo consta no artigo 447 do texto de regulamentação da reforma, a regra dos dois terços será aplicada sobre os 55% para bens de consumo final; 75% para bens de capital; 90,25% para bens intermediários e 100% para bens de informática.

Para além disso, o uso do crédito adquirido fica limitado a um período de seis meses e não pode ser utilizado para abater outros tributos ou pedir ressarcimento, como acontece no modelo tributário atual. Esses pontos também devem ser alterados no Senado, retomando o funcionamento como ocorre hoje.

 ‘Vamos fazer uma proposta no Senado’

 À reportagem, o presidente-executivo do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Lúcio Flávio Pinto, disse que a entidade trabalha em análises internas para aferir os impactos do texto de regulamentação da reforma nos diferentes setores da Zona Franca. O resultado será levado ao relator, senador Eduardo Braga, e aos outros membros da bancada do Amazonas no Congresso. 

“Vamos fazer uma proposta daquilo que precisa ser refeito ou melhorado na redação, no Senado. Nossa expectativa é que essas sugestões sejam incluídas e mantidas tanto no Senado quanto na Câmara, para onde o texto deve retornar antes da aprovação final”, afirma.

Segundo ele, a análise do cenário poderá tornar mais claro quais segmentos e produtos foram atingidos pelas alterações no crédito presumido, mas alguns já podem ser citados a partir de avaliações prévias.

“Podemos citar ar-condicionados, vestuários, brinquedos, aparelhos de ginásticas, bicicletas, dentre outros. Esse levantamento está sendo feito para que nós possamos trabalhar com o objetivo de recuperar o percentual dos que não foram atendidos”,  pontua.

 Novo modelo traz garantias

 Além do crédito presumido do IBS (tributo estadual), o ex-superintendente da Zona Franca e advogado tributarista, Thomaz Nogueira, chama a atenção para o funcionamento do CBS, novo imposto federal que substituirá o PIS/Cofins. Hoje esses tributos não são cobrados em operações internas na Zona Franca de Manaus. O texto de regulamentação da reforma altera esse cenário.

“Amanhã poderemos ter mais problemas e redução de benefícios se isso ocorrer. Esse é um caso mais complexo, porque foi exigido o PIS/Cofins primeiro, mas houve sucessivas decisões judiciais de que não cabia essa cobrança. Agora eles estão voltando com esse imposto para operações internas, o que afeta a indústria, embora pouco, porque as operações são mais externas, mas muito o comércio”, avalia ele.

Apesar disso, o especialista se mostra mais otimista com o cenário. Ele explica que o texto atual discute a regulamentação da reforma, mas o novo modelo tributário já foi aprovado pelo Congresso e a manutenção da Zona Franca consta agora na Constituição Federal. 

“O mais importante foi a votação da própria reforma. O que temos agora é uma regulamentação, que é importante, mas na reforma já está dito que as leis de implementação da reforma deverão respeitar o diferencial competitivo da Zona Franca. Outra coisa importante é que todas as jurisprudências que ganhamos em tribunais foram, pela primeira vez, para a Constituição. Foi um ganho monumental”, afirma. Para ele, esse fato dá segurança para a defesa da manutenção do modelo.

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