Píer provisório instalado em Itacoatiara (Foto: Daniel Brandão)
Instalado no início do mês e com operações iniciadas em 12 de setembro, o píer provisório da empresa SuperTerminais em Itacoatiara já movimentou 80 mil toneladas de produtos, armazenados em 4100 contêineres. O primeiro navio a chegar ao local foi um de longo curso da transportadora MSC.
Segundo a coordenadora de marketing da SuperTerminais, Larissa Holanda, essa operação está sendo planejada desde fevereiro para aliviar os efeitos da seca, que estava prevista para 2024.
"Ano passado a gente ficou três meses sem receber navios. A gente teve bilhões [de reais] perdidos pela indústria, principalmente pela falta de escoamento e pela falta de importações chegando na Zona Franca. Para evitar isso, para evitar os layoffs, todas as demissões que nós tivemos, fábricas paradas, a gente está planejando essa operação desde fevereiro", disse.
Larissa Holanda, coordenadora de marketing da SuperTerminais (Foto: Daniel Brandão)
A fala ocorreu durante uma visita a bordo do navio NC Bruma, da empresa Norcoast, que aportou no píer provisório no último sábado (21)) e iniciou as operações de carregamento dos contêineres nesta segunda-feira (23). A embarcação foi a terceira a chegar ao local, sendo a primeira a vir por meio da cabotagem - navegação que ocorre ao longo do litoral brasileiro.
"A gente está estimando cerca de R$ 45 a R$ 50 milhões de investimento para fazer com que essa operação ocorra", disse.
A operação "de guerra" para instalar um píer no município de Itacoatiara é inédita e tem como fim driblar os efeitos negativos da seca histórica. O módulo posto pela SuperTerminais tem 240 metros de comprimento com mais de 300 toneladas de peso. A localização da estrutura justamente em Itacoatiara, segundo Larissa, ocorreu devido à proximidade com o Tabocal, um dos pontos de passagem com situação mais crítica no trajeto até Manaus.
"Os navios não conseguem passar por esse ponto, e os navios que chegam a Manaus para abastecer e fazer o escoamento da Zona Franca precisam passar por ele. O Tabocal fica bem na foz do Madeira. A gente está um pouco antes dele, que é justamente o ponto aonde os navios conseguem chegar para daqui eles [os produtos] saírem de balsa para Manaus", explicou.
A região do Tabocal é uma das quais deveriam ter recebido a dragagem para auxiliar na navegabilidade dos rios. No entanto, o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), assinou o contrato para o procedimento somente neste mês.
Questionada pela A CRÍTICA se a dragagem que deve ser realizada nas próximas semanas terá algum efeito positivo, Larissa avaliou que os possíveis benefícios só devem ser sentidos no próximo ano.
"A dragagem, se ela for feita agora, é muito provável que ela não funcione para esse ano. É uma operação crítica, que precisa de água. Muitos pontos já estão secos e o trecho para navegação de carga é um trecho grande. Então se o governo correr e começar a dragagem agora, talvez funcione para o ano que vem", ponderou.
O píer faz operações de transbordo 24 horas por dia, trabalhando em conjunto com o porto principal da SuperTerminais localizado em Manaus. As balsas estão levando, em média, 18 horas para chegar até a capital. Inicialmente, a estrutura funcionaria até o mês de dezembro, mas a continuidade da seca deve estender o prazo até o mês de janeiro de 2025, quando os rios já estão em processo de cheia.
O prejuízo estimado pelo governo causado pela paralisação das empresas em 2023 foi de R$ 6 bilhões, mas a SuperTerminais estima que tenha sido maior devido ao impacto na cadeia produtiva.
"A gente fez um esforço hercúleo para não demitir ninguém. A gente ficou três meses sem receber navios para um porto que trabalha com navios. A gente deu férias coletivas, deixou o pessoal em casa porque sabia que quando voltassem ia ter trabalho dobrado. Teve muitas fábricas que são nossas clientes que tiveram layoff, tiveram grandes demissões", relembra.
Larissa Holanda também informou que o projeto está preparado para os níveis mais criticos dos rios, que podem se confirmar nos próximos dias pelo ritmo da descida das águas. Para a reportagem, ela afirmou que a empresa está preparada para outras secas históricas nos próximos anos, que estão no radar da meteorologia.
"A gente trabalha muito com questões científicas. Tem essa preocupação com a questão climática, e o que a gente fez foi: aqui no terreno na frente de onde está ocorrendo a operação, a gente na verdade comprou esse terreno porque a gente não acha que vai ser mais uma situação de cinco em cinco anos, a cada dez anos. Esse tipo de seca vai ser recorrente por conta da crise climática", concluiu.
Norcoast
Com pouco mais de um ano de trabalho na cidade de Manaus, a Norcoast é uma empresa brasileira de cabotagem dona de quatro navios capazes de carregar 3500 TEUs - unidade de medida para um contêiner de 20 pés.
O diretor de operações da empresa, Ricardo Nuno, relatou que iniciou os trabalhos em fevereiro e que os navios da empresa percorrem cinco portos: Santos (SP), Paranaguá (PR), Suape (PE), Pecém (CE) e Manaus (AM). Os portos paulista e amazone, segundo ele, são os principais mercados de atuação da Norcoast
"Ela é constituída de quatro navios de bandeira brasileira, toda a tripulação é brasileira, e é uma joint-venture entre duas empresas, duas gigantes: a Norsul, que é a maior empresa de cabotagem do Brasil depois da Transpetro, que é estatal, e a Hapag-Lloyd, que é o quinto maior armador de contêineres do mundo", disse.
Ricardo Nuno, diretor de operações da Norcoast (Foto: Daniel Brandão)
Sobre a operação da SuperTerminais, Nuno demonstrou satisfação com o fato do NC Bruma ser o primeiro navio de cabotagem a aportar no píer flutuante.
"Isso é o concretizar de um esforço que nós estamos vindo a desenvolver com a SuperTerminais. Desde o início do ano que nós estávamos nos preparando para a seca e esse era um dos cenários que nós tínhamos simulado. É com muita satisfação que a gente vê esse cenário se concretizando, com o intuito de tirar caminhões da estrada, lembrando que a cabotagem é um meio de transporte que polui menos quatro vezes que o transporte rodoviário", ressaltou.
O comandante André Carvalhaes, capitão dos portos da Amazônia Ocidental, afirmou que a Marinha do Brasil trabalha desde fevereiro com um plano de ação para mitigar os danos da estiagem.
Comandante André Carvalhaes, capitão dos portos da Amazônia Ocidental (Foto: Daniel Brandão)
"Nossa preocupação é a questão do abastecimento da produção, a economia do estado, da Zona Franca, mas não só. Tem uma questão social envolvida nisso. Um aumento de preços que afeta as populações mais vulneráveis. Então houve, nesse plano de ação, essa conscientização do papel da Marinha na agilidade da liberação e inspeção da estrutura portuária", disse.
O trabalho conjunto envolveu ainda a Receita Federal e as empresas de forma geral, tais como as próprias Norcoast e SuperTerminais.
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