Polícia Federal deflagra operação para investigar ataques contra indígenas no Oeste do Paranác

Polícia Federal deflagra operação para investigar ataques contra indígenas no Oeste do Paranác

 Duas crianças, incluindo uma de 4 anos, e dois homens adultos ficaram feridos no ataque ocorrido em 3 de janeiro; um dos homens adultos ficou paraplégico devido à gravidade das lesões



Indígenas protestam por demarcação de terra na região de Guaíra. Foto: CIMI

Porto Velho, RO - A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta quinta-feira 27, a operação “Mbarete” para investigar os conflitos fundiários entre ruralistas e indígenas na região de Guaíra, no Oeste do Paraná, após homens encapuzados invadirem a aldeia indígena Yvy Okaju, da etnia Avá-Guarani, e dispararem contra indígenas em 3 de janeiro.

À época, duas crianças, incluindo uma de 4 anos, e dois adultos foram atingidos pelos disparos de grosso calibre. Um dos homens adultos ficou paraplégico devido à gravidade das lesões, enquanto foi atingido no maxilar.

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a suspeita era de que ao menos três pontos da aldeia Yvy Okaju estivessem sendo monitorados pelos agressores, o que possibilitou a emboscada armada.

As investigações, realizadas pela PF com o apoio da Polícia Civil e da Força Nacional, “apontaram a participação de alguns moradores da região, os quais foram alvos de cumprimento de Busca”. Ao todo foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão.

O histórico dos ataques

O episódio foi o quarto ataque armado realizado em menos de uma semana entre os meses de dezembro e janeiro. O primeiro ocorreu em 29 de dezembro, quando invasores atearam fogo na vegetação e em uma das casas da aldeia. Em meio a fogos de artifício lançados contra os indígenas, também ocorreram disparos de arma de fogo. Nos dias 30 e 31, novos incêndios e tiros, que atingiram uma das mulheres na aldeia.

Os ataques entre o final de dezembro e começo de janeiro não foram ao acaso. Criminosos aproveitaram o recesso das autoridades para agir com menor risco de repressão.

Em fevereiro, novos ataques ocorreram e chegaram a ser transmitidos ao vivo pelos indígenas. No vídeo não é possível visualizar os agressores pela baixa luminosidade, apenas reflexos das lanternas de veículos, mas é possível ouvir uma gritaria seguida de disparos distantes espaçados.

A Força Nacional foi acionada para interromper o confronto, mas segundo fontes ouvidas pelo Cimi, os policiais demoraram a chegar no local e os disparos não cessaram mesmo após a presença dos oficiais.

O ataque resultou em outros 4 indígenas feridos, , três mulheres e um homem, foram socorridos pela manhã com a chegada de um motorista da Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Sesai.

Lentidão na demarcação e barreiras na justiça

A área, que engloba a Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, que circunscreve os municípios de Guaíra, Terra Roxa e Altônia, registra um histórico de disputa fundiária. Além da pressão de proprietários rurais, soma-se a conta a pressão da especulação imobiliária, uma vez que parte do território está no limite do centro urbano.

No total, são 24 mil hectares de área, sobrepostos por 165 fazendas e áreas de interesse comercial. Desde 2018, a Funai delimitou e identificou a TI, mas os trabalhos para a demarcação definitiva ficaram parados durante toda a gestão Bolsonaro.

Em 2023, o governo Lula (PT) deu andamento aos processos demarcatórios, mas uma ação movida pelas prefeituras de Guaíra e Terra Roxa e outra de autoria da Federação da Agricultura do Estado do Paraná conseguiram suspender novamente o processo.

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