
Novos registros apresentados à Justiça da Califórnia indicam que três pessoas que viveram por anos próximas a Michael Jackson afirmam ter sido orientadas pelo cantor a se esconder de seu advogado, Mark Geragos, em meados de 2003 e 2004, período em que o astro era investigado por suspeitas de abuso infantil.
Os documentos foram protocolados por Frank Cascio (44 anos), Marie-Nicole Porte (37 anos) e Aldo Cascio (34 anos). O trio alega ter passado parte da infância e adolescência hospedado com Jackson em propriedades particulares e suítes de hotel, durante o auge das investigações criminais.
“O advogado não pode saber que vocês estão aqui”
De acordo com o processo, Michael Jackson teria instruído o grupo a se manter fora de vista quando o advogado Mark Geragos, que o representava à época, visitava suas residências. Marie-Nicole Porte relatou em depoimento que *foi orientada a ficar em silêncio e não sair do quarto até que Jackson dissesse que estava tudo bem”, pois o advogado não poderia saber que havia menores hospedados com ele.
O texto cita que Geragos teria descoberto a presença das crianças em uma dessas ocasiões e ficado “genuinamente chocado”, conforme relato de Porte. O advogado, por sua vez, não é acusado de envolvimento e declarou à imprensa norte-americana que “jamais teve conhecimento de qualquer situação irregular” nas visitas ao cantor.
O acordo de 2019 e a disputa atual
Os irmãos afirmam ainda que, em 2019, após o lançamento do documentário Leaving Neverland, foram pressionados a assinar um acordo extrajudicial com o espólio de Michael Jackson. Segundo eles, o documento foi apresentado sem presença de advogados e lido em voz alta por um representante do espólio. Apenas uma cópia teria sido fornecida às partes. Alegam que foram advertidos de que, se buscassem orientação jurídica, “o acordo não seria feito”.
O espólio de Jackson contesta essa narrativa. Em comunicado enviado à People, os co-executores John Branca e John McClain afirmam que as acusações são “infundadas e falsas”, e classificam o novo processo como “uma tentativa de extorsão no valor de US$ 213 milhões”. Eles destacam que o acordo de 2019 já previa cláusulas de confidencialidade e que o caso está em arbitragem privada, aguardando decisão judicial sobre se o processo seguirá em sigilo ou será aberto ao público.
Quem é Frank Cascio?
Frank Cascio é o mais velho do grupo e figura conhecida entre os fãs de Jackson. Ele trabalhou como assistente pessoal e amigo próximo do artista durante mais de uma década, tendo inclusive publicado o livro My Friend Michael (2011), no qual descreve o cantor como “gentil e generoso”. Agora, Cascio afirma que não compreendeu completamente o acordo de 2019 devido à dislexia e que se sente “humilhado” por ser rotulado como extorsionista. O espólio rebate afirmando que ele participou voluntariamente das negociações e recebeu compensações financeiras previstas.
O que está em jogo
O novo processo reacende a discussão sobre o legado e a reputação póstuma de Michael Jackson, morto em 2009, e a credibilidade de alegações que surgem décadas após os supostos fatos. Especialistas em direito civil consultados pela Reuters observam que casos assim enfrentam “enorme dificuldade de prova”, especialmente por envolver eventos ocorridos há mais de 20 anos e pessoas que já morreram.
A equipe jurídica do espólio mantém a posição de que todas as alegações de abuso contra Jackson foram refutadas em tribunais anteriores, e que “continuar reabrindo casos antigos com alegações recicladas apenas perpetua o dano à família e à herança artística do cantor”.
Próximos passos
A Justiça da Califórnia deve decidir nas próximas semanas se o caso seguirá em arbitragem confidencial ou se haverá audiência pública. Até o momento, nenhum novo processo criminal foi aberto. As partes civis seguem em disputa sobre os termos do acordo assinado em 2019 e sobre a autenticidade de alguns documentos anexados pelos irmãos Cascio.
Enquanto isso, o espólio de Michael Jackson reafirma que “nenhum valor adicional será pago a pessoas que tentam se aproveitar do nome do artista”.



0 Comentários