Willian Arão, que é paulistano, já jogou no Flamengo e atualmente mora em Istambul, diz que há mobilização de moradores nas buscas por soterrados. Tremor foi o pior desde 1939 na região, segundo o governo turco, e foi sentido também em Israel, Líbano, Iraque e Chipre.

Por GloboNews e g1 SP

Jogador Willian Arão, ex-Flamengo, atualmente no Fenerbahçe, relata situação da Turquia após terremoto 

Jogador Willian Arão, ex-Flamengo, atualmente no Fenerbahçe, relata situação da Turquia após terremoto 

O jogador brasileiro Willian Arão, que é paulistano, já jogou no Flamengo e atualmente mora em Istambul, Turquia, relatou durante entrevista à GloboNews o clima de luto, medo e devastação no país após o terremoto de 7,8 de magnitude deixar mais de mil mortos na manhã desta segunda-feira (6).

Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o tremor foi tão forte quanto um registrado no país em 1939 e que vitimou mais de 30 mil pessoas.

"Os turcos e nós também estamos recebendo [a situação] de uma forma devastadora porque é uma tragédia sem precedente. Eles são muito patriotas. Estão todos mobilizados para tentar ajudar para tentar prestar serviço de alguma forma. Companheiros nossos de trabalho estão soterrados, suas famílias também, então é uma tragedia imensa. Infelizmente o clima também não tem ajudado, porque em algumas partes ainda há neve, tem muito frio, então isso também dificulta um pouco, mas é um clima de luto mesmo, muita tristeza", enfatiza.

Jogador Willian Arão, ex-Flamengo, atualmente no Fenerbahçe, relata situação da Turquia após terremoto  — Foto: GloboNews/Reprodução

De acordo o William, ele estava concentrado para um jogo marcado à noite, quando soube do terremoto, causando apreensão em todos. Do local onde o jogador estava até o epicentro do terremoto é cerca de 1.400 km.

"Eu não senti, a gente não sentiu o tremor aqui em Istambul. Depois de saber, tranquilizei a família, perguntei como a minha família aqui em Istambul estava, porque como a gente tinha jogo eu estava concentrado. Depois também falei com os meus irmãos, falei com o meu pai, dizendo que estava tudo bem, mas a gente jogou nessa cidade, em Gaziantep há semanas, e provavelmente muitas dessas pessoas estavam no estádio também".

"Os próprios jogadores que têm amigos, alguns trabalhadores do nosso time, os funcionários, todos eles têm amigos de algumas partes desses lugares [atingidos]. Então, você vê apreensão neles e sente a dor deles, porque pode acontecer com qualquer um. É muito triste. Você vê crianças, você vê gente de todas as idades, e como eu disse, tem ainda a questão do frio também que em algumas partes estão com -2, -3, sensação de -5°C", diz.

Prédio destruído após terremoto em Jandaris, no distrito de Afrin, noroeste da Síria, nesta segunda-feira (6) — Foto: Rami al Sayed/AFP

O jogador ainda relatou sobre os moradores estarem se unindo para ajudarem nas buscas pelos soterrados nas áreas atingidas.

"Tem muita gente se mobilizando, já tem muita gente saindo propriamente de Istambul, que é propriamente onde eu vivo, indo pra lá [área mais afetada], ajudando, todo mundo de alguma forma tentando ajudar. Eu consegui ver o pessoal do clube tentando bolar uma estratégia pra ver como nós, jogadores e o próprio clube, poderíamos ajudar de alguma forma".

"O que eu posso fazer nesse momento é orar pra essas famílias, orar pra que eles consigam resgatar o maior número de pessoas possível, porque é devastador mesmo".

Mais de mil mortes

Imagens mostram equipes resgatando sobreviventes do terremoto na Turquia e Síria

Imagens mostram equipes resgatando sobreviventes do terremoto na Turquia e Síria

Pelo menos 1.600 pessoas morreram e mais de 5.000 ficaram feridas devido a um terremoto de magnitude 7,8 que atingiu a Turquia e o noroeste da Síria na manhã desta segunda-feira (6).

Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o tremor foi tão forte quanto um registrado no país em 1939 e que vitimou mais de 30 mil pessoas.

Pessoas procuram sobreviventes nos escombros em Diyarbakir, nesta segunda-feira (6) — Foto: Sertac Kayar/Reuters

Esse foi um dos abalos sísmicos mais mortais que ocorreram nas últimas décadas na Turquia, uma das zonas de terremotos mais ativas do mundo. Até a última atualização desta reportagem, milhares de pessoas ainda estão desaparecidas.

Segundo especialistas e centros de pesquisa de atividades sismológicas, os principais pontos que podem explicar, em parte, o tamanho da destruição provocada são:

  • O fato de que a Turquia fica espremida entre três placas tectônicas que se atritam - a da Eurásia, ao norte, a da África-Arábia ao sul, e a Placa da Anatólia;
  • Dessa vez, o epicentro do tremor, ou seja, o ponto da superfície onde o terremoto é primeiro sentido, foi perto da cidade de Gaziantep, uma região no centro-sul da Turquia bem perto da fronteira com a Síria e próxima do encontro dessas placas;
  • Segundo o Centro Alemão de Pesquisa em Geociências, esse epicentro foi a 10 quilômetros da superfície, uma profundidade considerada baixa, muito próxima ao solo; o tremor de 1939, por exemplo, aconteceu a uma profundidade equivalente, cerca de 20 quilômetros;
  • Outro fator importante foi a força do abalo sísmico. Ao "The New York Times", Januka Attanayake, sismólogo da Universidade de Melbourne, na Austrália, disse que a energia liberada pelo tremor desta segunda foi equivalente a 32 petajoules, uma quantidade suficiente para abastecer a cidade de Nova York por mais de quatro dias;
  • Além de toda essa enorme quantidade de energia liberada inicialmente, de acordo com o USGS, o terremoto desta segunda foi seguido 11 minutos depois por um tremor secundário de magnitude 6,7 e horas mais tarde por um de magnitude 7,5, que provocaram maiores destruições;
  • Fora isso, houve mais de 40 réplicas - tremores menores que sucederam o principal;
  • Por causa das mudanças na crosta terrestre, grandes terremotos são frequentemente seguidos por esses tremores secundários. O de 1939, por exemplo, também produziu tremores do tipo. Contudo, com o passar do tempo, e a consequente recuperação das falhas, esses eventos se tornam cada vez mais raros;
  • Apesar disso, ainda de acordo com o USGS, terremotos mais rasos como esse da Turquia são muito mais prováveis ​​de serem seguidos por tremores secundários do que terremotos mais profundos, com epicentros maiores que 30 km de profundidade.

Ainda de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, apenas três terremotos de magnitude 6 ou mais ocorreram nas proximidades do tremor desta segunda desde 1970. Um dos maiores, de magnitude 6,7, ocorreu a nordeste do terremoto de 6 de fevereiro, em 24 de janeiro de 2020.

E todos esses terremotos anteriores ocorreram ao longo ou nas proximidades da falha da Anatólia Oriental.

Terremoto mata mais de mil na Turquia e na Síria — Foto: Arte/g1

O Círculo de Fogo do Pacífico (uma região longe desse tremor de segunda) é a área com mais terremotos no mundo. Mas, historicamente, o sul da Turquia e o norte da Síria sofreram terremotos significativos e prejudiciais no passado:

Aleppo, na Síria, por exemplo, foi devastada várias vezes por grandes terremotos:

  • Segundo o USGS, um terremoto de magnitude 7,1 atingiu a cidade em 1138 e um terremoto de magnitude 7,0 ocorreu 1822. As estimativas de fatalidade do terremoto de 1822 chegam a 60 mil.

Já na Turquia, além do terremoto de 1939, outros eventos significativos aconteceram mais recentemente, como:

  • Um tremor de magnitude 6,7 em 2020 que atingiu o Mar Egeu e causou grande destruição na cidade costeira de Izmir, deixando 12 pessoas mortas e mais de 600 feridas;
  • Um tremor de magnitude 7,2 em 2011 que atingiu a província oriental de Van, localizada próximo ao Iraque, deixando 264 mortos e 1.300 feridos;
  • Um tremor de magnitude 6 em 2010 que atingiu o leste da Turquia, deixando 51 pessoas mortas;
  • Um tremor de magnitude 7,4 em 1999 que atingiu Istambul e o noroeste da Turquia, deixando mais de 17 mil mortos e 30 mil feridos.

Equipes de resgate tentam alcançar sobreviventes presos dentro de um prédio que desabou em Adana, Turquia — Foto: IHA via AP

Pessoas procuram sobreviventes nos escombros de prédios destruídos na cidade de Harem, perto da fronteira com a Turquia, província de Idlib, Síria, nesta segunda-feira (2) — Foto: Ghaith Alsayed/AP