Senador Cid Gomes (PDT-CE) - Waldemir Barreto/Agência Senado
Senador Cid Gomes (PDT-CE) Imagem: Waldemir Barreto/Agência Senado
Mariana Londres

Do UOL, em Brasíllia

24/03/2023 04h00

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No dia 4 de abril, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, será ouvido pelos senadores da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) sobre as taxas de juros brasileiras e sobre o erro cometido pelo Banco Central nas estatísticas sobre o câmbio.

Os requerimentos pedindo explicações sobre esses dois pontos dos senadores Vanderlan Cardoso (PSD-GO) e Alessandro Vieira (PSDB-SE) foram aprovados na reunião do último dia 14.

Durante os esclarecimentos de Roberto Campos Neto sobre a taxa básica de juros, o senador Cid Gomes (PDT-CE), integrante da CAE, também pedirá explicações sobre um dos modelos usados pelo Banco Central para definir as taxas básicas de juros, o "Samba", modelo para análise macroeconômica quantitativa desenvolvido pelo BC.

Cid Gomes me explicou que quer entender melhor como o BC toma as decisões sobre os juros.

"Você sabe eu fico meio desconfiado da existência disso mesmo [Samba] porque ficamos comparando com outros lugares. Os Estados Unidos levam em conta duas coisas para efeito de juros. Inflação, obviamente, e nível de emprego. Então lá a máxima é a menor inflação com menor desemprego. Isso é o que baliza a definição da taxa de juros".

Usando dados, o senador continua: "A inflação nos Estados Unidos no ano passado foi de 6,5%. Maior do que a do Brasil. O desemprego lá é 3,8%. Do Brasil é 8,4%. A taxa de juros lá é 4,75%, a nossa é 13,75%. Se fosse uma diferença de um ponto, mas uma diferença de nove pontos? Então eu vou realmente perguntá-lo sobre o Samba, aliás eu acho que o Senado deveria pedir a ele que mandasse as bases dele".

O Samba foi adotado pelo Banco Central em 2011 e já foi alvo de críticas, justamente em momentos em que os atores políticos não estavam satisfeitos com as decisões do Comitê de Política Monetária do BC na definição da taxa básica de juros.

O modelo foi citado pela primeira vez pelo Copom em setembro de 2011, para justificar uma mudança na direção da política monetária. Para os críticos, a exposição do Samba foi vista como uma forma de dar sustentação teórica para o desejo de baixar os juros. Para os entusiastas, mostrou como o sistema era avançado, por conseguir prever além do que os analistas econômicos enxergavam naquele momento.

O BC não deixa claro qual o peso do Samba em suas decisões. A autoridade monetária usa um conjunto de modelos e evita prestar informações sobre eles para além do que diz pontualmente em seminários acadêmicos ou nos relatórios de inflação.

Em 1999, quando o Brasil adotou o sistema de metas de inflação, o Banco Central não dispunha de modelos sofisticados para definir as taxas de juros. A autoridade monetária então abriu concursos, atraiu economistas de fora e também investiu na formação de servidores, montando um time para desenvolver um modelo de projeção econômica avançado, assim como os usados pelos bancos centrais de outros países que haviam adotado o sistema de metas de inflação.

Cinco anos após o início do desenvolvimento, o BC passou a usar o Samba. O modelo é a versão brasileira dos adotados por outros países, os modelos DSGE, ou "Modelo Dinâmico Estocástico de Equilíbrio Geral". A nossa adaptação tem o nome técnico de "Modelo Analítico Estocástico com uma Abordagem Bayesiana", mas foi batizado pelos pesquisadores de Samba, tanto pela referência à música brasileira, quanto pela sigla em inglês para "Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach". Anos antes, o modelo da Nova Zelândia, foi nomeado Kitt, em homenagem à ave símbolo do país (Kiwi Inflation Targeting Technology).

Em uma explicação simplificada, o modelo processa dados econômicos inseridos pelos economistas do Banco Central, não com um simples cruzamento de dados, mas usando diversas equações. O modelo é dinâmico. Leva em conta, por exemplo, que os atores econômicos não reagem necessariamente da mesma forma a situações semelhantes ao longo do tempo, e considera parâmetros exclusivos da economia brasileira. O sistema e seus parâmetros são revisados e aperfeiçoados ao longo dos anos.

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