'Não temos gasolina ou diesel', diz placa em posto de gasolina em Buenos Aires. — Foto: Reuters/Tomas Cuesta
A crise dos combustíveis na Argentina se agravou nesta segunda-feira (30). Na capital do país, Buenos Aires, postos já estão sem gasolina ou com longas filas.
A Argentina é uma grande produtora de petróleo e gás de "shale", mas vem sofrendo com a falta de gasolina e de diesel desde a semana passada. A situação ocorre em meio a problemas internos com o refino, além da escassez de dólares, o que atrasou as importações.
Diante do cenário, o governo cogita interromper as exportações para preservar os estoques, e trabalhadores do setor ameaçam entrar em greve (veja mais abaixo).
A crise tem prejudicado a imagem do governo antes do segundo turno da eleição presidencial, marcado para 19 de novembro.
O confronto será entre o peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia, e o candidato ultraliberal Javier Milei. Até a última atualização desta reportagem, o governista era visto como líder da corrida.
Na capital, repórteres da Reuters presenciaram postos de gasolina sem o produto e com placas avisando que não havia mais combustível. Em outros lugares, longas filas se formavam, e alguns estabelecimentos estavam fazendo racionamento das vendas.
Fila de carros para abastecer em posto de Buenos Aires. — Foto: Reuters/Tomas Cuesta
Greves
Executivos de empresas petrolíferas afirmam que há greves sendo planejadas nas refinarias locais, que fornecem 80% do suprimento doméstico.
De acordo com os representantes do setor, o fato de a nação ter poucas reservas internacionais de dólares tem dificultado as importações.
“Não é um problema de falta de petróleo. O problema é que não há mais capacidade de processamento com as refinarias que temos na Argentina”, afirmou uma fonte da indústria, que pediu para não ser identificada.
“Além disso, você precisa de dólares para pagar pelas importações, e o Banco Central não tem. E, mesmo se importassem, as refinarias perdem dinheiro, vendendo na bomba a um preço inferior daquele que usam para comprar.”
Para tentar diminuir a inflação, que está em quase 140% em termos anualizados, o governo argentino fixou o preço do petróleo em US$ 56 o barril, muito abaixo dos praticados no mercado internacional, de cerca de US$ 86 — decisão que distorce a lógica econômica das companhias que importam produtos do exterior.
Ameaça de fim das exportações
Durante o fim de semana, Massa disse às petrolíferas que elas precisam resolver o problema da demanda interna até o fim da terça-feira, ou o governo vai interromper as remessas de exportação de petróleo de xisto do grande campo de Vaca Muerta.
“Defenderei o suprimento interno, defenderei o consumo dos argentinos”, afirmou.
Sindicatos locais apoiaram a posição de Massa e estão ameaçando realizar uma greve a partir de quarta-feira se a situação doméstica não se resolver. Eles afirmam que a produção é recorde e que as empresas petrolíferas estão sendo “oportunistas e mesquinhas”.
Uma segunda fonte anônima disse que o problema realmente não é a produção, mas o refino e as barreiras às importações. E afirmou que, por outro lado, interromper a produção em Vaca Muerta não ajudaria a resolver a situação.
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