Quem é esse fulano da placa? Consulte as histórias dos nomes das ruas de São Paulo

Quem é esse fulano da placa? Consulte as histórias dos nomes das ruas de São Paulo



Conhecida nacionalmente pela multidão que recebe nas datas comerciais mais importantes do ano, a Rua Vinte e Cinco de Março, no Centro de São Paulo, no século 18, era o Beco das Sete Voltas, por seguir as sete margens sinuosas do Rio Tamanduateí. A também famosa Ladeira Porto Geral, na mesma região, servia, de fato, como porto para as canoas que navegavam por esse rio.

Rua do Trem, Rua da Quitanda, Rua Direita: nos primórdios da cidade, o mais comum era que as ruas fossem nomeadas assim, de maneira descritiva. Mas com o passar dos anos, poucas mantiveram os nomes originais.

Muitas foram mudando para fazer homenagens. A Vinte e Cinco de Março, por exemplo, passou a fazer referência à primeira Constituição do Brasil, promulgada no século 19.

O mais comum, porém, foi usar as vias para homenagear pessoas. A ponto de, atualmente, um em cada 10 das mais de 48 mil ruas, praças, pontes, viadutos, vielas, travessas da cidade de São Paulo — que, nesta quinta-feira, completa 470 anos — terem o nome de alguém, segundo um levantamento feito pelo g1 no “Dicionário de Ruas” do Acervo Histórico Municipal de São Paulo.

Mas quem são esses fulanos e fulanas? E as datas, objetos, signos, lugares que dão os nomes a outras milhares de vias? No infográfico abaixo desta reportagem você pode consultar as histórias por trás da maioria dos nomes das vias paulistanas — uma parte, cerca de 5 mil, ainda não foram disponibilizados pelo Acervo.

34 mil fulanos

Montagem de fotos com placas de ruas de São Paulo. — Foto: Fábio Tito/g1

Do total de 48.320 registros oficiais de vias de São Paulo, 14,8 mil se referem a datas, locais, objetos, animais, plantas, sentimentos e outros. Mas a grande maioria, 34 mil, são nomes de pessoas. Os mais comuns são:

  • José - 1.433
  • João - 1.052
  • Antônio - 865
  • Francisco - 694
  • Maria - 534
  • Manuel - 430
  • Pedro - 404
  • Joaquim - 303
  • Antonio, sem acento - 289
  • Manoel - 282

Os dados também apontam que a histórica desigualdade de gênero presente na sociedade pode ser observada de maneira bastante clara nas nomeações, já que 87% dos nomes se referem a homens e apenas 13%, a mulheres.

  • ♂️ Nomes masculinos - 87% (29,6 mil)
  • ♀️ Nomes femininos - 13% (4,4 mil)

Se considerados apenas os registros de 2023, a diferença percentual é um pouco menor, com 70% para homens e 30% para mulheres. Mas essa diferença geral está muito longe de ser equiparada, já que, no total, foram feitos apenas 92 novos registros de logradouros no ano passado.

Doutores e santas

Montagem de fotos de placas de São Paulo com nome de doutor e santa. — Foto: Fábio Tito/g1

A diferença no tratamento de homens e mulheres nas homenagens presentes nas ruas da cidade também pode ser percebida nos títulos pelos quais são reconhecidos.

O título mais frequente entre os homens homenageados é o de “doutor”, com 1.405 registros. Por outro lado, há apenas 12 “doutoras” homenageadas. Os “engenheiros” também aparecem com destaque entre os homens, com 259 casos, contra apenas quatro “engenheiras”.

Entre as mulheres, o título mais recorrente não está ligado à profissão, mas, sim, à religião. “Santa” lidera os registros, com 229 nomeações. “Nossa Senhora” também aparece nas primeiras colocações, com 75 registros.

De Cristóvão Colombo a Dona Laura

Esquina da rua 15 de Novembro com a Rua Direita. — Foto: Fábio Tito/g1

O registro oficial mais antigo sobre uma denominação de logradouro de São Paulo é de 1892, quando a Rua da Academia passou a se chamar Rua Cristóvão Colombo. A escolha do nome marca as comemorações dos 400 anos da chegada do explorador italiano às Américas.

Segundo o documento físico presente no Arquivo Municipal de São Paulo (AHM), a ideia inicial era que a Rua São João (hoje Avenida São João) ganhasse o nome Cristóvão Colombo. Contudo, um abaixo-assinado de moradores impediu a mudança. Foi decidido, então, que a Rua da Academia ganharia o novo nome.

Livro de 1892 com o primeiro registro oficial de logradouro na cidade de São Paulo. — Foto: Fábio Tito/g1

Já o registro mais recente, de 11 de janeiro de 2024, é a Viela Laura de Souza Araújo. Segundo a justificativa para a denominação, “Dona Laura” foi uma antiga moradora da região, “sempre presente na vida dos moradores, sendo uma referência no bairro desde 1970, com seu jeito amigável e dedicado.”

“Hoje em dia, é mais comum se a gente pegar, por exemplo, as denominações de 2023, que se homenageie pessoas que moravam naquele bairro, que participaram de lutas locais. Antigamente, eram sempre homenageadas pessoas da elite paulistana que não necessariamente tinham a ver com aquele local específico, aquele bairro onde a rua estava sendo denominada”, diz Gabriela Almeida, coordenadora do Núcleo de Memória Urbana do AHM.

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