As principais causas de internações são: doença diarréica aguda, inflamação gastrointestinal aguda, desnutrição, desnutrição grave, pneumonia, picadas de cobra e malária. Internações são referentes ao período em que o Ministério da Saúde iniciou ações na TI Yanomami.

Por g1 RR — Boa Vista

Crianças Yanomami com desnutrição severa são atendidos por equipes do Ministério da Saúde — Foto: Condisi-YY/Divulgação
1 de 3 Crianças Yanomami com desnutrição severa são atendidos por equipes do Ministério da Saúde — Foto: Condisi-YY/Divulgação

Crianças Yanomami com desnutrição severa são atendidos por equipes do Ministério da Saúde — Foto: Condisi-YY/Divulgação

A prefeitura de Boa Vista informou ao g1 que na última semana foram feitas 29 novas internações no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA). Ao todo, segundo a unidade, há 47 crianças Yanomami internadas no local.

As principais causas de internações das crianças que estão no HCSA são: doença diarréica aguda, inflamação gastrointestinal aguda, desnutrição, desnutrição grave, pneumonia, picadas de cobra e malária. O número de novas internações corresponde ao período em que o Ministério da Saúde esteve Terra Indígena Yanomami e resgatou indígenas com quadros de desnutrição severa e malária.

O Santo Antônio, administrado pela prefeitura da capital, é a única unidade de saúde em Roraima que atende crianças até 13 anos. O hospital também costuma receber pacientes da Guiana e Venezuela, países que fazem fronteira com o Brasil.

Ontem, a Urihi Associação Yanomami, coordenada pelo presidente do Conselho do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari, divulgou que 26 crianças e dois adultos foram resgatados durante a missão do Ministério da Saúde, realizada neste domingo (22).

O secretário de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba acompanhou a ação e ao g1 definiu o cenário como "uma operação de guerra". Tapeba esteve na região de Surucucu, uma comunidade dominada pelo garimpo – a atividade ilegal é a principal causa da crise sanitária no território.

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Diante do que viu, Tabepa vai propor ao Ministério da Saúde que seja implantado dentro da reserva um hospital de campanha, que inclua estrutura de alojamento e cozinha comunitária. A ideia é montar a unidade em Surucucu, região considerada o centro da Terra Indígena.

Além da medida emergencial da instalação do hospital de campanha, a Sesai também deve montar um plano de ação que inclua a melhoria de infraestrutura dos polos de saúde, além da logística, insumos, medicamentos, equipamentos, água potável, energia e internet.

Tapeba chegou a Roraima no sábado (21). Ele estava na comitiva de Lula (PT), que viajou ao estado para ver de perto a desassistência aos Yanomami. O presidente se surpreendeu com o que encontrou.

"Se alguém me contasse que em Roraima tinham pessoas sendo tratadas dessa forma desumana, como vi o povo Yanomami aqui, eu não acreditaria. O que vi me abalou. Vim aqui para dizer que vamos tratar nossos indígenas como seres humanos", disse Lula

Crianças são as mais afetadas por doenças na Terra Indígena Yanomami — Foto: Condisi-YY/Divulgação

Em dezembro deste ano, o g1 e a Globo News mostraram imagens de crianças Yanomami sofrendo com desnutrição grave na Terra Indígena. As fotos, divulgadas pela associação Urihi Associação Yanomami, revelaramm meninos e meninas extremamente magros e com costelas aparentes.

Depois da malária, a desnutrição infantil é um dos maiores problemas de saúde enfrentado pelos indígenas dentro da Terra Yanomami. Um estudo do Unicef (braço da Organização das Nações Unidas para a infância) e a Fiocruz aponta que oito em cada dez crianças menores de 5 anos têm desnutrição crônica - nas regiões de Auaris e Maturacá.

Saúde dos indígenas

Imagens mostram situação de indígenas na Terra Yanomami, a maior reserva do país em extensão territorial — Foto: Arte/g1

Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami registra nos últimos anos agravamento na saúde dos indígenas, com casos graves de crianças e adultos com desnutrição severa, verminose e malária, em meio ao avanço do garimpo ilegal.

Só em 2022, segundo o governo federal, 99 crianças Yanomami morreram – a maioria por desnutrição, pneumonia e diarreia, que doenças evitáveis. A estimativa é que, ao todo no território, 570 crianças morreram nos últimos quatro anos, na gestão de Jair Bolsonaro.

Em 2021, o g1 e o Fantástico já tinham registrado cenas inéditas e exclusivas de crianças extremamente magras, com quadros aparentes de desnutrição e de verminose, além de dezenas de indígenas doentes com sintomas de malária em comunidades Yanomami.

Em novembro do ano passado, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) realizaram uma operação contra uma fraude na compra de remédios destinados ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y).

De acordo com as investigações, o esquema criminoso deixou pelo menos 10 mil crianças indígenas sem medicamentos. Os alvos da operação são empresários e servidores do Dsei-Y – órgão do Ministério da Saúde responsável pela saúde indígena Yanomami.

Com a visita de Lula a Roraima para tratar sobre a crise sanitária, a dramática situação do povo Yanomami se tornou um dos assuntos mais comentados do país no Twitter. Muitas pessoas, ao verem as imagens das vítimas, chamaram de "barbárie" e "descaso".

Criança Yanomami recebe atendimento de equipe de Saúde — Foto: Condisi-YY/Divulgação

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